Aspectos Históricos da Educação Especial
Bianchetti
Tese 1:
Visão fragmentada
do corpo, ora negando e ora supervalorizando parcialmente.
“O corpo tem suas
razões”.
“O corpo fala”.
Tese 2:
Monstruosa
padronização.
Leito de Procusto.
Na antiguidade, o
importante era manter o padrão a qualquer preço.
Tese 3:
Entender através da
historia como o homem foi atendendo às suas necessidades básicas.
O homem pode
preconceber o que vai fazer e por isso podem resolver suas necessidades de
acordo com os empecilhos que as relações e o meio vão criando.
Há de se analisar a
“deficiência” historicamente analisando do ponto de vistas das sociedades
primitiva, escravista, feudal e capitalista, para conhecer os meios de
integração ou exclusão aplicados aos deficientes.
Perspectiva Histórica da Educação Especial
Na procura do
atendimento das necessidades básicas que o homem constrói sua existência, a
partir das relações entre si, mediados pelo mundo, num dado momento da
história.
A deficiência era
um fardo na sociedade primitiva, que era dada ao nomadismo de acordo com os
ciclos da natureza. Isso impedia a pessoa de participar ativamente das
atividades de caça, pesca e coleta, tornando-a inútil para o grupo que a
abandonava à própria sorte. Prevalecia a seleção natural.
Na sociedade grega,
o culto ao corpo, à boa forma leva à eliminação das crianças nascidas com
alguma deficiência. (conforme paradigma espartano)
Também há uma
separação de corpo e mente pensante. Onde a mente é delegada àqueles que
executam as tarefas administrativas e governantes e, o corpo é delegado àqueles
que executam os trabalhos degradantes – escravos. (Conforme paradigma
ateniense).
A alma é a parte
digna e o corpo possui honra (ainda que mínima) apenas por ser a condição de
tempo (morada) da alma.
Dualidade: corpo
como templo de Deus (da alma); corpo como oficina do diabo.
A associação entre
deficiência e pecado é antiga e pode ser analisada inclusive em passagens
bíblicas onde Jesus opera seus milagres de cura em deficientes variados.
Percebe-se através
das narrativas que os próprios deficientes viam-se como malogrados de alguma
forma e pediam por misericórdia e purificação.
Quando Jesus cura o
paralitico e diz: “perdoados estão os teus pecados”, fica indissociável a
deficiência e o pecado.
Estes exemplos não
devem ser compreendidos moralmente, mas sim historicamente, pois servem para
que se analise e compreendam os horrores da segregação dos deficientes.
O argumento da
Igreja durante a inquisição, era de libertar a alma cujo corpo fora tomado pelo
demônio que se manifestava em forma de alguma deficiência.
A Igreja ainda
tinha outro argumento sobre os deficientes. Seriam estes agraciados
naturalmente com as suas limitações para que outros homens através deles,
expiassem seus pecados praticando a caridade. Esta concepção dá origem às
Santas Casas de Misericórdia.
Quando analisamos a
sociedade capitalista, vemos uma grande diferença, pois o sistema visa o
processo civilizatório, impondo-se sobre todas as outras formas sociais de vida
e trabalho.
No processo de
transição da sociedade feudal para a capitalista, o teocentrismo com todas as
suas teorias e ideologias cede lugar ao antropocentrismo.
“Os instrumentos,
os aparelhos igualam os homens” Francis Bacon.
O corpo passa a ser
visto como máquina, assim comparado, havendo alguma deficiência de “peças”,
logo o corpo não terá funcionalidade alguma na sociedade. (visão que pode ser
confrontada com a da idade media que associa deficiência à pecado, aqui, fica associada à uma disfuncionalidade).
Destaca-se no
pensamento burguês, a luta pela igualdade, mas não passa de uma utopia.
“O Deus se chama
capital e o pecado é não ser produtivo!”
Decorrências Para a Educação Especial
Séc. XVI >
pastor João Amós Comênio > Didática Magna.
“Para o povo,
educação em doses homeopáticas, já que não tinham necessidade de muita
educação. Fornecer-lhe conhecimento poderia ser prejudicial pois levaria-os a
se rebelar”.
Divisão da escola
comênica: Escola Materna > Escola primaria para todas as crianças >
Escola de Latim para Alguns > Academia para poucos.
Jerome Buner – O
Processo da Educação: “É possível ensinar tudo a todos, de uma forma “honesta”,
em qualquer fase de crescimento”.
Até o séc. XVI os
homens eram vistos como iguais, mas claro já respeitada a divisão de classes
que não considerava escravos e servos nessa homogeneidade.
Com o gradativo
predomínio da burguesia abre os horizontes, diante disso, a pessoa que nasceu
pobre poderia sim se tornar rico, e ter um acesso maior à educação. Na verdade,
a educação passa a ser vista como um dos meios para a passagem de uma classe
para outra.
“Tratar diferentes
de forma similar, gera a exclusão de alguns”.
Pedagogia da
Essência > Pedagogia da Existência > Escola Nova.
A partir de quando
se percebe que uma mesma educação para classes diferentes não leva aos
resultados esperados, os filósofos e pedagogos começam a voltar suas atenções
para a especificidade.
Crianças até então
eram vistas como adultos em miniatura, cujas limitações eram um mal que só o
tempo curaria.
Pestalozzi
dedica-se as crianças pobres e excluídas do sistema formal.
Froebel dedica-se
também às crianças, criando os jardins de infância.
Fénelon atenta para
a educação das moças.
Séc. XX emergem as
atenções direcionadas ao processo de aprendizado com Piaget, Vygotsky e Emilia
Ferreiro.
Freinet ocupando-se
das crianças do meio rural.
Paulo Freire
preocupado com a educação de adultos.
Porém ainda não
recebem atenção às pessoas portadoras de deficiência que do séc. XVI em diante
se viram sob influência da Igreja, passando então para o campo da medicina.
(ver a comovente
descrição de um deficiente feita erroneamente por Martinho Lutero)
A partir do momento
que a medicina passa a ‘explicar’ a deficiência, trata-a como inatismo, isso
impede a até então eliminação dos deficientes, mas gera então a segregação.
Eles eram um perigo para si e para a sociedade.
Tentativa de
integração na sociedade francesa de Vitor, o selvagem de Averyon. Empenha-se na
tarefa de educá-lo Itard, e cita-se no texto que a sua descrição sobre os
avanços de Vitor são as mais belas páginas da história da Educação Especial.
E. Seguin manifesta
em favor dos deficientes: a possibilidade e a necessidade da prevenção; a
educabilidade do deficiente; a integração do deficiente como meio e fim.
Limites e Possibilidades
Limites:
Em maior ou menor
grau, os portadores de deficiências continuam segregados ou usados.
A educação especial
é vista como um meio para se levar ao campo do trabalho.
Lógica capitalista:
investe-se naquilo que gera lucro∕retorno imediato. Valorização do corpo para
desfile∕exposição.
Deficiência como
necessidade.
Possibilidades:
A luta pela integração
do deficiente, tanto na escola quanto na sociedade.
A tecnologia
avançada praticamente elimina as diferenças entre uma pessoa considerada normal
e uma considerada deficiente.
Desativação de um
sistema especial e paralelo de ensino.
Superação da linguagem
estigmatizada e estigmatizadora dos deficientes.
Conclusão
Ate pouco tempo
sempre procurou-se um remédio ou explicação para a doença instalada, dando
ênfase ao curativo. Hoje atua-se no preventivo.
A formação de
equipes e o avanço em direção à interdisciplinaridade, com a clareza da
necessária profundidade dos especialistas.
BIANCHETTI, Lucídio. Aspecto Históricos da Educação Especial. Revista Brasileira de Educação Especial
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