MERCOSUL:
NOVO TERRITÓRIO OU A AMPLIAÇÃO DE VELHAS TENDENCIAS?
Contexto
Internacional
A
Globalização remete à ideia de um movimento que tem como “campo de ação” todo o
planeta, um movimento que opera na escala mundial. A regionalização, por outro
lado, mostra uma tendência a atuar em uma área limitada do planeta, em uma
escala mais reduzida.
A
complexidade crescente no processo produtivo é um dos eixos dessas mudanças. A
incorporação do conhecimento tecnológico aparece como a condição necessária
para o aumento da produtividade e do crescimento econômico. (...) As novas
tecnologias, sobretudo no campo da microeletrônica, imprimem um salto
qualitativo no processo de produção, de gestão e de organização do trabalho. É
assim, que nesse processo, a qualidade da informação tem se convertido em fator
estratégico para a competitividade das empresas, regiões e dos países.
Esse
salto, por implicar, de um lado, investimentos de alto custo, e de outro, uma
rápida obsolescência dos produtos e processos, cria a necessidade de ampliar a
dimensão dos mercados. Dessa maneira, novas tecnologias exigem escala
planetária, acentuando a tendência da globalização da economia.
A
crescente transnacionalização da economia a qual, embora não seja novidade,
acentuou-se nas ultimas décadas. O avanço nas tecnologias de informação
facilita significativamente essa tendência ao permitir que etapas da produção
se localizem em países diferentes, mantendo o monitoramento centralizado sobre
elas. (...) é a consolidação de um espaço integrado da empresa, alem das
fronteiras nacionais.
Os
governos nacionais buscam ampliar o espaço de realização das mercadorias com
maior abertura da economia. A ampliação dos mercados, através da criação de
zonas de livre comércio, uniões aduaneiras ou mercados comuns, se transforma
assim em uma saída para enfrentar as novas condições de competitividade
internacional.
Tanto
regionalização quanto globalização decorrem de uma necessidade crescente de
ampliação de mercados.
É
bom ressaltar, no entanto, que os agrupamentos entre países tem preferentemente
caráter intergovernamental, com peso ainda significativo das políticas
conduzidas pelos Estados.
Algumas
Particularidades Latino-americanas
A
formação de um mercado comum no Cone Sul (MERCOSUL) é uma das iniciativas
intra-regionais de caráter minilateral que se tem registrado na América Latina
no inicio da década de 90.
Diante
do contexto das crises vivenciadas nos países da America Latina e das mudanças
estruturais do sistema econômico internacional, procura-se conformar, como uma
das formas de reativação econômica, associações minilaterais que dinamizem o
comercio intrazonal.
Tentam-se
transformar os processos de integração já em curso, em instrumento para
dinamizar as relações econômicas exteriores. Neste contexto, situa-se o
MERCOSUL, proposta de integração entre Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai,
que surge com a assinatura do Tratado de Assunção em março de 1991. De acordo
com o Artigo nº 1 desse Tratado, os Estados Parte decidem construir um mercado
comum, que deverá ser estabelecido até 31 de dezembro de 1994 e que implica nas
seguintes metas: (a) livre circulação de bens, serviços e fatores produtivos
entre os países, (b) o estabelecimento de uma política comercial comum em
relação a terceiros países, (c) a coordenação das políticas macroeconômicas e
setoriais entre os Estados membros, e (d) o compromisso de harmonizar as
legislações nacionais nas áreas pertinentes.
Limitam-se
ao tratamento da questão das barreiras ao comercio (dos membros da comunidade
entre si e no seu relacionamento com o resto do mundo). O mercado comum, por
sua parte, inclui a livre mobilidade de mão de obra e de capital, o qual exige
um importante esforço na coordenação das políticas internas dos países
envolvidos.
Os
Momentos de Integração Econômica no Cone Sul
1985
– Brasil e Argentina iniciam processos de integração do Cone Sul.
Essa
ligação é uma tentativa de reverter o esquema predominante no comercio
bilateral, que se baseia fundamentalmente na exportação de produtos primários
com pouco grau de processamento por parte da Argentina diante das exportações
brasileiras de manufaturas. Esquema clássico de especialização intersetorial,
que, em uma situação de mercado ampliado, pode até provocar a desaparição de
algum setor em um dos parceiros comerciais.
Os
protocolos setoriais são instrumentos básicos deste Programa. Facilitam uma
abertura negociada por setor e por produto, procurando atingir dois objetivos:
a curto prazo, recuperar o nível de transações e corrigir desequilíbrios
sistemáticos nos fluxos de comércio e, a longo prazo, criar um novo padrão de
relacionamento entre as duas economias, que consolide seu papel de indutores do
crescimento regional.
Alem
de estabelecer mecanismos progressivos de eliminação tarifária e de remoção de
barreiras não tarifárias, propõem-se medidas como a formação de empresas
binancionais e a criação de um fundo de investimentos, visando estimular a
complementaridade produtiva.
A
renovação dos governos democráticos na Argentina e Brasil nos anos 90 promove
uma reformulação ampla do PICE, a qual ocorre nem tanto por uma avaliação
estrita de seus resultados, mas como uma das respostas ao quadro de asfixia
econômica e financeira em que se encontravam ambos os países. (realizada pelos
presidentes Menem e Collor).
Esta
decisão de acelerar o processo de formação de um mercado comum com o
estabelecimento de calendários extremamente apertados é também uma forma de
desconhecer as assimetrias entre os países envolvidos e, em consequência, as
relações econômicas preexistentes.
Um
Dilema Ainda não Resolvido
Um
processe de integração econômica entre vários países responde, sem dúvida, a
uma decisão de tipo político que imprime determinado conteúdo ao projeto. Este
último depende principalmente dos processos políticos internos de cada país, da
condução de seus governos e da participação dos diferentes segmentos da
sociedade civil. Daí que vários autores falam dos possíveis cenários ou opções
que o processo de integração pode enfrentar.
Neste
sentido, deseja-se destacar que a possibilidade de atingir níveis crescentes de
competitividade não depende exclusivamente dos esforços individuais dos agentes
econômicos. Cada vez mais a experiência internacional torna-se central a ideia
de “competitividade sistêmica” como base sólida para o desenvolvimento
econômico.
Conforme
observado, pode-se concluir que o enfoque do avanço gradual por setores, que
predominou no primeiro momento do processo de integração entre Argentina e
Brasil, corresponderia basicamente à via de tipo industrialista. Pelo
contrario, a inflexão produzida a partir de 1990 mostra que o novo esquema
parece estar mais próximo da opção de comercialista, na qual o Estado aparece
subordinado à lógica de mercado.
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