terça-feira, 18 de dezembro de 2012

A nova divisão internacional do trabalho


A DES-ORDEM ECONÔMICA MUNDIAL: A NOVA DIVISÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO
            As mudanças ocorridas na economia nas ultimas décadas, podem demonstrar como o jogo de poder mundial está subordinado aos interesses do grande capital e das grandes corporações transnacionais, sem falar nos organismos internacionais que atuam como verdadeiros gerentes da economia global, em especial o capital financeiro, como o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional.
            Ernest Mandel, um dos teóricos de fundamentação marxista que melhor discutiu essa questão, afirma que: o andamento cíclico do modo de produção capitalista ocasionado pela concorrência manifesta-se pela expansão e contração sucessivas da produção de mercadorias e, consequentemente, da produção de mais valia.
            Constitui-se assim, uma nova divisão internacional do trabalho cuja espacialidade pode nos revelar muito, especialmente no que se refere ao poder de transformação das novas tecnologias, às novas formas de intervenção das grandes corporações e à desconstituição de sujeitos coletivos por meio da desconstrução da organização dos trabalhadores e outros grupos sociais.
            De acordo com a teoria dos ciclos, a periodização mais simples apresentada por L. Harris, que distingue três grandes etapas do capitalismo: o capitalismo concorrencial, o capitalismo monopolista e o capitalismo monopolista de Estado (para alguns, os dois últimos constituem o chamado imperialismo).
            Pouco a pouco começa a se desenhar um novo pacto entre o capital e o trabalho, pelo menos nos países industrializados. Era o fordismo com sua ideia de um “capitalismo popular”.
            O Plano Marshall pós Segunda Guerra, viria ensejar um modelo de intervenção supranacional, pois no lugar de as potencias imperialistas disputarem entre si os mercados, o que levará a guerras, buscavam-se: (1) reconstruir e desenvolver a arrasada Europa, (2) conter a expansão soviética que avançara sobre o Leste europeu, (3) apresentar-se como uma alternativa política contra a ascensão de grupos e partidos de esquerda.
            Após 1945, teremos os chamados anos dourados do capitalismo fordista, período que consagrou a denominada sociedade de consumo de massas.
            Desde fins da Segunda Guerra vem sendo gestado um novo padrão internacional de poder que se configura com a importância cada vez maior das grandes corporações empresariais transnacionais, em termos institucionais num conjunto de entidades supranacionais (como a ONU, FMI, BID e o Bird).
            Estava aberto, pois o caminho para uma financeirização cada vez maior da economia mundial. A partir desse momento, o dólar passa a ser o novo lastro que os países devem buscar, e somente um país, os EUA podem emitir essa moeda.
            O fordismo como acumulação baseada na intensificação do consumo e da produtividade (via métodos “fordistas” de trabalho) e na regulamentação monopolista, centralizadora, seria ultrapassado, ou melhor, passaria a conviver, a partir dos anos 1980, com o chamado pós fordismo ou capitalismo de acumulação flexível.
COMPARATIVO DA MODERNIDADE FORDISTA E PÓS MODERNIDADE FLEXÍVEL
MODERNIDADE FORDISTA
PÓS MODERNIDADE FLEXÍVEL
Hierarquia – Homogeneidade
Anarquia - Diversidade
Habitação Pública
Desabrigados
Capital Produtivo – Universalismo
Capital fictício - Localismo
Poder estatal - capital monopolista – sindicatos
financeirização - complexos corporativos empresariais - des-responsabilização social do Estado
Forte presença de sujeitos coletivos
Desconstituição dos sujeitos coletivos
Ética - Mercadoria-dinheiro
Estética - dinheiro contábil
Produção – Originalidade
Reprodução - Ecleticismo
Operário – Vanguardismo
Administrador - Comercialismo
 Centralização -  Totalização
Descentralização - Desconstrução
Sintese - Negociação Coletiva
Antítese - Contratos Locais
Produção em massa
Produção de Pequenos Lotes
Política de classes
Movimentos sociais, grupos de interesse
Trabalhador especializado
Trabalhador flexível
Reprodução mecânica
Reprodução eletrônica

            Segundo esses autores (em geral, cientistas políticos) a guerra, por meio da indústria bélica que a sustenta, seria o grande dínamo das inovações tecnológicas, o estímulo maior para o surgimento das novas tecnologias.
            Embora os EUA permaneçam como a grande potência econômica do planeta, visto como Estado-nação, em termos individuais, a liberalização do comércio e das finanças, aliada ao novo padrão tecnológico (aquilo que Milton Santos denominou de período e∕ou meio técnico científico informacional) deu forma a uma “fluidez” ou globalização do espaço planetário nunca antes vista.
A GLOBALIZAÇÃO ECONÔMICA NEOLIBERAL
            “Desterritorializador” (fluido) e globalizador inerente ao capitalismo:
·         A liberação de populações de seus territórios na realização da acumulação primitiva, criando um proletariado livre;
·         A unificação em torno do dinheiro, seu equivalente em geral, referencia quantitativa frente à qual, praticamente tudo passa a ser medido e avaliado;
·         O estabelecimento de um conjunto de leis “historicamente variáveis imanentes ao próprio funcionamento do capital”.
            Entretanto, é claro que o capitalismo não corresponde a um processo unilateral e cumulativo de “globalização”. (...) À medida que parece organizar-se gradativamente uma espécie de “território mundo” globalmente articulado, o capitalismo se reproduz contraditoriamente e, sobretudo, difunde a desigualdade, apropriando-se ou mesmo produzindo a diferenciação, a fim de expandir a lógica mercantil que lhe é inerente.
            A interferência periódica do Estado é sempre uma “faca de dois gumes” na consolidação da globalização capitalista, pela contradição que lhe é inerente entre as defesas de interesses públicos e de interesses privados, que conjuga abertura e fechamento de fronteiras, “estatismo” e liberalização econômica.
            O discurso da desterritorialização e, consequentemente, de uma globalização irrestrita num mundo efetivamente “sem fronteiras” vincula-se hoje, em grande parte, aos argumentos políticos daqueles que defendem o chamado projeto neoliberal.
            Durante o domínio do chamado Estado do bem-estar social ou Estado-previdência (nos países centrais capitalistas), a partir da Segunda Grande Guerra, o Estado atua também como um agente redistribuidor de renda, capaz de assegurar não apenas a ampliação do mercado de consumo pela elevação (relativa) dos salários, mas também alguns benefícios sociais pelos quais há muito vinham lutando os trabalhadores organizados.
            O Estado, como espécie de intermediário capaz de “pender a balança” para um ou outro lado, aparece como principal responsável pela políticas “reguladoras” dos conflitos entre o capital e o trabalho.
            Entretanto, nessa fase de globalização neoliberal, o Estado vai gradativamente perdendo força e deixando muito maior a liberdade para que as forças do mercado comandem a economia.
            A globalização econômica se desdobra em quatro formas ou dimensões: a comercial, a produtiva, a tecnológica e a financeira.
A DIVISAO TERRITORIAL DO TRABALHO E AS NOVAS DESIGUALDADES
            Antigas divisões territoriais do trabalho adquirem outra conformação, muito mais complexa. Inicialmente, a consideração dos diferentes setores da economia – primário, secundário e terciário, por exemplo.
            Dessa forma, a nova divisão internacional do trabalho passou a ser baseada não estritamente nos setores da economia por tipo de produto, mas nos níveis tecnológicos de produção, nas formas de gestão e nas relações de trabalho dominantes, o que inclui, é claro, o valor dos salários pagos aos trabalhadores.
            Podemos afirmar que hoje, a divisão territorial∕internacional do trabalho, pautada nos níveis tecnológicos da produção e nos correspondentes níveis de qualificação (e de exploração) da força de trabalho, permite diferenciar o espaço mundial identificando:
·         Espaços que detém o domínio do capital financeiro e dos investimentos na produção e∕ou o controle das tecnologias mais avançadas e da difusão de informações.
·         Espaços com certa independência financeira, em que predominam atividades econômicas com níveis intermediários.
·         Espaços com grande dependência do capital financeiro internacional, em que a produção é de baixo nível tecnológico.
            Num país com as dimensões e complexidade do Brasil, o mais justo é analisar não simplesmente a sua participação na divisão internacional do trabalho, mas também as especificidades de sua divisão inter-regional do trabalho.
            Nesta nova divisão do trabalho, comandada pela informação, pela biotecnologia e pelo capital financeiro, dois novos espaços são fundamentais: pelo lado da tecnologia, centros sofisticados de pesquisa (os chamados tecnopólos), capazes de pensar e∕ou produzir inovações tecnológicas e de qualificar permanentemente a força de trabalho; pelo lado do capital financeiro, distritos financeiros sofisticados no interior das principais “cidades globais”, e paraísos financeiros (ditos offshore) em pontos estratégicos, a fim de lavarem o dinheiro obtido em operações ilegais cada vez mais frequentes.
            Temos então, a grande importância adquirida pelo chamado “capital pensante”, que gera inclusive novas formas de exploração, não só da conhecida forma da “fuga de cérebros”, mas também pela contratação, a baixos salários, de pesquisadores trabalhando nos seus países de origem, como aconteceu com a Europa Oriental.
            Assim, apesar da crescente globalização e da dificuldade de identificar a “nacionalidade” da produção de uma empresa transnacional, a analise econômica pautada nas bases territoriais dos Estados não perdeu a importância, ainda mais se considerarmos que a maioria dos dados econômicos ainda é fornecida referente às economias nacionais.
            Essa nova era pode também ser considerada a era das desigualdades.
            Em suma, da precarização das relações de trabalho e a consequente marginalização ou exclusão de um numero crescente de pessoas, sem lugar no mapa da globalização, seja como massa política de manobra, seja como trabalhadores ou até mesmo, em situações mais extremas, como consumidores.
            Até mesmo entidades como a Organização Internacional do Trabalho reconhecem que a globalização acirrou as desigualdades, aumentando a distancia entre ricos e pobres. A abertura de mercados e novos acordos comerciais não garantiram a redistribuição da riqueza, mas a sua concentração. Apenas alguns países, justamente onde não foram aplicados os programas ortodoxos de abertura dos mercados, como a China, a Índia e a Coréia do Sul, conseguiram diminuir a miséria; no caso da China, porem , houve acentuado crescimento das desigualdades entre ricos e pobres.
            Outro indicador socioeconômico que reflete bem o nível de desigualdade planetário é o que se refere às condições de habitação, mediante o percentual de população favelada.

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