A cidade no Brasil (1930 a 1980)
As transformações na política que
ocorreram neste período foram de fundamental importância a configuração das
cidades, ocorreram duas ditaduras que perduraram por metade do período
mencionado. Na economia o estado que já tinha papeis importantíssimos como o de
gerir o território,sendo ele quem cria e executa leis, impõe regras e as
fiscaliza,neste período ele se firma no papel de planejamento, com obras em
infra estrutura, principalmente no que favorece o crescimento da atividade
industrial, e assim muito pouco investe no social, ( saneamento básico: água
potável, rede de esgoto, etc. ), e em terceiro destacamos a dinâmica
demográfica, que com o crescimento industrial, há também um aumento no tamanho
e no numero das cidades, e dessa forma o predomínio da população urbana sobre a
rural, sendo que a principal atividade econômica é a industrial, que é
efetivada nas cidades.
As mudanças neste período foram
continuas, e foram principalmente no papel e na própria estrutura do estado
brasileiro, este passando a ter mais poder sobre os setores econômicos dentro
do seu território, isto com a derrota ainda parcial das oligarquias dominantes.
Foram estabelecidas a partir dos anos trinta condições para um processo articulado
por meio de instituições políticas e econômicas, em que se consolidaram novos
valores sociais e culturais, de características urbanas. Nos anos trinta e
quarenta foram adotadas no estado medidas econômicas e realizações
institucionais, que constituem uma nova fase nas relações político-econômica ,
isto se deu visando o fortalecimento do crescimento econômico tendo como base o
capital nacional, e de outro lado a abertura de mercado, política cambial,
dando prioridade e valorizando a moeda nacional, facilitou também as
importações e as remessas de lucros por parte das empresas estrangeiras que se
deu em um desenvolvimento econômico dependente. Pretendeu-se em primeiro
superar a dependência com a nacionalização das decisões sobre a política
econômica, e em segundo realizar o desenvolvimento por meio das condições de
dependência. É importante saber que as duas tendências estiveram sempre
presentes neste período, em que se buscava romper com a dependência, e em que
essa dependência era necessária a economia. O urbano se impondo sobre os
interesses que se enraizaram na economia agrário-exportadora, e assim
estabelecendo o predomínio da cidade sobre o campo.
Todas as transformações ocorridas fez
com que houvesse um aumento da população das cidades, ou seja a concentração
urbana, e isso teve como consequências mudanças econômicas, sociais e
políticas. Expandia-se os setores terciários, a industrialização, e aumentava
também a classe media, o proletariado e a burguesia industrial, isso
quantitativa e qualitativamente. A medida que se expandia a divisão do
trabalho, surgiam outros interesses econômicos, e quanto mais se expandia a
sociedade urbana, tornava-se também mais complexa e diversificada, e assim se
fortalecia como poder e exigia do poder publico um olhar com mais veemência as
necessidades da cidade, dessa forma o poder publico se deflagrou com novos
problemas, que eram muitas vezes difícil De se resolver. Sendo assim não
podemos olhar a urbanização como algo que possa ser medido em termos puramente
quantitativos, mais principalmente como processo, e saber que deve existir
mudanças qualitativas na estrutura.
As frequentes crises ocorridas na economia
primaria exportadora ( borracha, açúcar, café, mineração), as crises políticas
( revolução de 30, estado novo, deposição de Vargas e redemocratização), a
crise mundial ( depressão econômica de 29 a 33 e a segunda guerra mundial)
revelaram os limites do modelo político e econômico vigente até os anos trinta.
De outro modo, o surgimento do setor industrial, a expansão do setor terciário,
a urbanização crescente e concentrada nas principais cidades como Rio de Janeiro,
São Paulo, Recife, Salvador, Porto Alegre e Belo Horizonte, a diversificação e
complexidade da divisão social do trabalho e as classes sociais que se tornaram
mais configuradas e representativas, puseram em evidência as possibilidades do
sistema econômico e político Brasileiro.(apud. IANNI, 1979: 59/110).
A urbanização tem na
década de quarenta mudanças em seu padrão, sendo que houve aumento no numero de
cidades e também na urbanização, porem a partir deste momento permaneceram
constante, tanto o aumento do número de cidades, como no aumento da população
nas cidades, na década de quarenta 70% da população Brasileira vivia no campo,
mas a partir deste período a industrialização- urbanização torna-se o principal
agente na modernização do país fazendo com que estes números mudassem, pois a
cidade se tornou mais atrativa, visto que o campo já não suportava a população
que La vivia, pois a modernização no campo comandada pela cidade havia tornado
inútil tanta gente trabalhando.
“O
desenvolvimento de base urbano-industrial constituem suporte da ‘modernização
conservadora’, que produziu grandes transformações na produção, na divisão do
trabalho social entre setores urbanos em expansão e oligarquias rurais e na
conformação do território, em quanto atividades anteriores, de caráter
artesanal e domestico, passaram a ser progressivamente marginalizadas”(apud.Davidovich,
1995, p. 79-80).
E houve então a
integração do território nacional por meio de construção de redes rodoviárias,
fazendo com que produtos fabricados no centro sul ajudassem na destruição das
pequenas fabricas e dos artesanatos das vilas e povoados.
Nos anos cinquenta, no
governo JK aconteceu uma sistematização no programas de metas visando
transformações na economia brasileira, transformações essas de grande impacto
no setor industrial do país, pois o estado passa ter uma ação mais ampla, para
a implantação de uma estrutura industrial integrada, em que se da no aumento no
numero de trabalhadores urbanos.
O período dos anos 50 inicia uma fase que é
qualitativamente distinta na economia brasileira, onde tanto o caráter do
estado quanto o que é a relação entre o estado e o urbano na economia e na
sociedade brasileira constituem temas abertos para os quais não se tem ainda
respostas muito consistentes, o que se pode dizer, em linhas muito geris, é que
o período dos anos 50, sobretudo a partir do período Kubitschek, instala de
golpe no Brasil o capitalismo monopolista. (apud.OLIVEIRA, Francisco de. O
estado e o urbano no Brasil, p.20).
A
atividade industrial tem uma consolidação em seu crescimento a partir de meados
dos anos cinquenta, e isso impulsionado pelo programa de metas, que tinha como
objetivo reformulação a estrutura de base, descontente, passando a uma
interdependência com o capitalismo mundial. Com a indústria mais consolidada, a
cidade continua aumentando o seu poder atrativo sobre a população, sendo que a
indústria se tornara a principal atividade econômica e assim houve um aumento
no índice de urbanização, que passa de 26,35% em 1940, para 56,80% em1970.
Porem a industrialização não pode ser vista como o único fator de urbanização.
Pois esta causou grande impacto com atração mais também como expulsão, visto
que as modernizações ocorridas no campo, como por exemplo, em áreas especificas
do país em especial o sudeste, sul e em parte do cerrado no centro-oeste
causaram o êxodo rural, fazendo com que varias famílias de identidades rurais
se visem obrigadas a migrarem para as cidades e se transformarem em
proletariados, consolidando-se assim as tendências de urbanização da sociedade
Brasileira no período que se da na segunda metade da década de cinquenta ate a
década de sessenta. Desde os anos cinquenta a indústria com a produção de bens
duráveis, indústria automobilística, petroquímica, metalúrgica e
eletrodoméstica, fez com que ocorressem fluxos migratórios internos; sendo
assim ocorreu durante décadas um fluxo migratório que fornece Mão de obra para
as áreas concentradas que estivessem passando por um desenvolvimento econômico,
fazendo com que o crescimento urbano fosse de maneira desigual. A
industrialização foi muito importante para a urbanização Brasileira, mais não
pode ser vista como fator determinante a mesma, pois há outros fatores muito
importantes que contribuíram para a urbanização do Brasil, esses fatores são
modificações ocorridas no campo. A modernização, a mecanização e o latifúndio
em algumas áreas geraram desempregos e lutas pela terra, pois aqueles que não
conseguiam alcançar tais modernizações eram obrigados a sair do status de produtor, e assim tinham de lutar para se manter encima
da terra, onde poderiam cultivar seu próprio alimento,porem eram obrigados a
vende-las, pois não era viável continuar com a terra sem os meios para
produzir. Com essa necessidade de se produzir mais e sem os meios para isso houve a estagnação causando a luta pela
sobrevivência, visto que os proprietários tentam a todo custo se manter em suas
terras, porem sem condições para se adequar as novas formas de produção, sendo
assim esta é uma luta já perdida. Desse modo tanto a modernização, a mecanização, o
latifúndio como a estagnação resultou no êxodo rural.
A urbanização no Brasil aconteceu de forma
desigual, sendo que as políticas publicas priorizavam os investimentos em
infraestrutura com o objetivo de suprir as atividades industriais, que
predominavam de maneira concentrada na região centro sul.
Em termos do crescimento populacional
urbano a configuração territorial da urbanização manteve as grandes linhas
desenvolvidas principalmente a partir dos anos 60, caracterizando-se
particularmente:
Pela importância da
concentração urbana, que envolveu ainda expressivo crescimento relativo
demográfico entre 1970 e 1980, mostrando o ajustamento da população a condições
percebidas como as de maiores oportunidades econômicas e sociais:
Do nível metropolitano,
cuja participação relativa no total do pais passou de 25,5% para 29,0%, a despeito de diferenciações flagrantes
entre são Paulo e rio de janeiro, fortaleza e recife, e outros exemplos:
Das aglomerações
urbanas abaixo desse nível, principalmente das situadas em áreas de maior
dinamismo industrial (exemplos das de campinas, são Jose dos campos, americana
em são Paulo, de Ipatinga em minas gerais) ou de capitais interioranas, como
Teresina no Piauí, sem falar de Brasília no distrito federal, e Goiânia em
Goiás. (apud. DAVIDOVICH, Fani. Urbanização brasileira: tendências, problemas e
desafios p.12).
A população brasileira
em 1960 correspondia a 71,0 milhões de habitantes, a população rural neste
período ainda era maioria, porem a população urbana crescia a passos longos, e
com 32,0 milhões de habitantes correspondia a 45,5% da população total do país.
Comparadas a décadas anteriores veremos que a população urbana obteve aumento
considerável, e na década de setenta viu-se claramente o crescimento superior
da população urbana sobre a rural, pois nesta década a população urbana superou
a rural, dos 94,5 milhões de brasileiros, 56,8% moravam na cidade, ou seja a
cidade concentrava uma população de 52,9 milhões de habitantes. Porem este
crescimento populacional se deu em mudanças socioespaciais em que a indústria
tida como principal responsável a urbanização, não conseguiu suprir todas as
necessidades de trabalho do momento, fazendo com que as desigualdades sociais
aumentassem.
A urbanização no Brasil
’deu certo’ para o crescimento econômico pretendido. Entre 1945 e 1980, o PIB
aumentou em mais de dez vezes, o incremento da indústria alcançou 9% ao ano e
os engajamentos nesse setor passaram de 275 mil em 1920 para 11 milhões em 1980”.
(apud. DAVIDOVICH, 1995, p.80).
Uma crise se instala
nas cidades nos anos sessenta, porem não se pode dizer que esta crise é fruto
da urbanização, e sim dos meios para criação de infraestrutura urbana, esta
infraestrutura estava dirigida no sentido de expandir o crescimento industrial,
que se deu de forma tardia, atendendo uma pequena parte da população, fazendo
com que aumentassem e surgissem mais problemas urbanos, pois os recursos eram destinados
a expansão capitalista, e não haviam investimentos que atendessem as demandas
sociais, sendo assim, quanto mais cresciam as cidades, mais aumentava a
concentração de renda, causando um crescente empobrecimento das pessoas que
viviam nas cidades, pois só havia emprego para uma parcela daquela população. O
BNH foi criado para atender as políticas de moradia, pela oferta de habitação
popular, e saneamento, mais ele não conseguiu alcançar o objetivo do qual lhe
foi imposto, e isso em 20 anos de existência.
“de 4,5 milhões de
unidades financiadas entre 1964 e 1985, somente 1,5 milhão (33,3%) foram
destinadas aos setores populares. Sendo que os atingidos pelos programas
alternativos (remunerados com 1 e até 3 salários mínimos) foram contemplados
com apenas 250 mil unidades. O que significa 5,9% do total. Alem disso, a
política habitacional teve, na pratica, um caráter ‘redistributivo ás avessas’,
pois se baseou num sistema financeiro abastecido de capitais sub-remunerados
oriundos de pequenos poupadores, cadernetas de poupança, e de recursos dos
assalariados, do FGTS”. ( apud.RIBEIRO e AZEVEDO. 1996, p.13-14).
A
infraestrutura urbana obteve no período em questão um grande desenvolvimento,
foram efetivadas grandes obras principalmente nos setores energético e
telecomunicação, estes foram realizados com investimentos de verbas vindas
diretamente do estado, e com isso fortaleceu o mercado interno por meio de
criação de postos de trabalho, principalmente sem Mao de obra qualificada,
estes eram gerados na construção civil impulsionado pelas grandes obras, como a
hidroelétrica. Se tratando de infraestrutura urbana pouco foi investido como em
saneamento básico, em saúde e educação, pois estes investimentos não estavam
ligados diretamente ao sistema produtivo.
As políticas publicas
de 1930 a 1980 esteve sempre na direção de atender o processo de reprodução do
capital, porem essas políticas não foram suficientes, pois se considerarmos as
pressões demográficas que se instalavam em partes especificas do território, o
acesso aos serviços públicos se deu dessa forma em um grande problema que junto
aos efeitos causados pela políticas sobre os desequilíbrios regionais e
ambientais não foram resolvidos. Olhando através do processo veremos que a
urbanização da sociedade brasileira é determinada, e representa a divisão do
trabalho e em cada momento com uma modalidade especifica, e até os anos oitenta
determina a divisão do trabalho entre cidade e campo. A cidade como lugar onde
se tem relações intensas de produção e de consumo não apenas econômicos, mas
também de poder, fazendo com que haja o crescimento populacional, de atividade
econômica e da pobreza urbana, pois as indústrias não ofertavam emprego aquele
contingente populacional. Assim a cidade aparece como o local da exclusão, onde
as classes dominantes fazem com que a pobreza seja vista como a causadora de
todo mal existente na cidade, e também impedem que se tenha uma sociedade justa
e democrática.
As cidades são vistas como o lugar da
exclusão, do crime da violência, e os pobres são vistos como os causadores
desses males. Porem e preciso nos determos para o momento concreto da historia
em que a cidade passa a ser vista dessa forma, pois nem sempre se teve essa
visão da cidade, pois devemos levar em conta o como essa violência foi
produzida, e porque vem sendo denominada violência urbana. É a partir dos anos
oitenta que as classes dominantes colocam os pobres como os causadores da violência
urbana, e isso acontece agora com mais clareza, visto que a pobreza é cada vez
mais colocada como a causa da violência. Esse tipo de visão nos da a ideia de
que se mudar para um outro lugar, principalmente se for um pais de primeiro
mundo os problemas estarão resolvidos, pois nesse pais desenvolvido não terá os
causadores, que são eles os moradores de rua, os sem-teto os moradores de cortiço
e os favelados, ou seja todos aqueles que estão fora do Brasil globalizado,
essa visão esta na analise feita pela mídia e pelas classes de elite, para eles
o Brasil estaria livre dos problemas se na houvessem essas classes
marginalizadas.
A cidade é o lugar onde se da as relações
de produção e de poder, é o lugar de consumo de concentração, é o lugar do
consumo não só de objetos mas também de ideias, ou seja é o lugar das
possibilidades, é onde cada integrante contribui com a sua produção, sendo assim
o dever dos geógrafos é destacar a cidade nesse sentido, levando em conta as
relações e a produção na cidade, em que todos os indivíduos ali presentes
participam desse processo, e assim contrapor a essa visão de que a cidade é o
lugar da exclusão, do crime, em que os pobres são os culpados. A cidade é o
lugar das construções, das diversas relações, é onde o homem exerce o poder
sobre o homem constantemente. As transformações de 1930 a 1980, ocorridas na
política, na economia e na dinâmica demográfica do pais foi de fundamental
importância, em termos principalmente de organização, pois as políticas neste
período deu ao o pais um novo ritmo de crescimento, na economia houve um grande
desenvolvimento das industrias, sendo estimuladas pelas políticas de infraestrutura,
e na dinâmica demográfica a população urbana ganhou força, em quantidade e em
qualidade, tornado-se mais complexa e diversificada. O crescimento das cidades
no Brasil foi desigual, em termos sociais e regionais, pois este ocorreu de
forma mais acentuada em regiões com um maior desenvolvimento econômico, e dessa
forma, vemos hoje regiões com um poder financeiro muito grande, e outras com
uma pobreza avassaladora, porem nessas regiões que detém um poder econômico
maior, também apresentam desigualdades, ou seja, essas regiões também
apresentam em sua sociedade grandes
desigualdades sociais e econômicas. Todos os processos relacionados a cidade,
ocorridos nos momentos históricos do Brasil, foram importantes para a
urbanização, porem, os processos ocorridos no período de 1930-1980 foram
fundamental a configuração urbana existente.
Oliveira J.A. Meio
século de transformações e permanência. A cidade no Brasil (1930-1980). In:
SPOSITO, Maria Encarnação Beltrão, urbanização e cidade perspectivas geográficas;
org. presidente prudente (S.N) 2001.
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