Cidade
Brasileira 1870-1930
Introdução
O período histórico de 1870
a 1930 marca a transição do Brasil rural para o Brasil urbano industrial, as
transformações que se desenvolveram neste período nortearam as modificações do
cotidiano urbano no século XX. O objetivo está na análise de algumas
categorias, que permitem que compreendamos melhor essa época de transição do
Brasil rural para o Brasil urbano-industrial.
Mercantilização: a formação
de mercado urbano de terras
No período de 1870 a 1930 é
marcado pela entrada dos processos capitalistas modernos na mercantilização das
terras urbanas, sentido principalmente nas cidades que sofriam maiores assedio
de movimentos imigratórios então dispunha de demanda de população a procura de
moradias e terras urbanas, terras essas, que agora passam a serem tradas como
ativo financeiro. Surgem empresas capitalistas com o objetivo de produzir e
comercializar lotes urbanos, ainda com participação do capital bancário, para
financiamento de grandes loteamentos destinados tanto a burguesia ascendente
quanto a classe proletária também em crescimento.
O comercio de terras supera
o pequeno latifúndio que era dividido em lotes e passa a ser intensamente
explorado por grandes empresas capitalistas de comercio de terras com apoio do
capital bancário.
Neste período também surgem
os primeiros indícios de inclusão precária, quando loteamentos destinados à
classe burguesa passam a receber investimentos em infraestrutura do Estado,
enquanto os loteamentos destinados ao proletariado ficam a espera da
infraestrutura que demora a chegar e quando chega já não atende ao loteamento
agora urbanizado por mais ocupações, em um ciclo de crescimento e abandono.
Além da preferência do
grande capital imobiliário pelo latifúndio, surgiram investimentos mais
modestos de capital imobiliário associado ao capital industrial para construção
de moradias em vilas e loteamentos onde habitavam os trabalhadores da
indústria.
Crise
e superação do pensamento sobre as cidades: do higienismo ao sanitarismo.
No
que se refere a estudos higienistas e a salubridade pública, os núcleos urbanos
sofreram várias alterações. De outro modo, a criação de novas cidades foi
guiada por várias preocupações. As considerações do higienismo obtém, nesse
período, uma grande evolução e do higienismo passa a ser considerado
sanitarismo.
O
conceito de Higienismo, baseado em teorias de Hipócrates, o médico inglês Thomas
Syndenham demonstra
a relação entre a deterioração do meio natural e o surgimento dos surtos
epidêmicos. Dessa correlação, obtemos um desenvolvimento teórico que atribuí ao
meio ambiente, e em destaque, à corrupção do solo, da água e do ar, um papel importante
na explicação da salubridade pública. Uma das epidemias que mais causou
consequências foram os miasmas, causadas da decomposição de matérias orgânicas.
De forma que assegurasse a saúde pública e trouxesse melhores condições às
cidades, os médicos iniciaram estudos da origem dos miasmas, de forma que fosse
identificado o foco e enfim, a eliminação das epidemias. Alguns desses estudos
eram chamados “topografias” e “geografias”, dos quais buscavam a localização da
epidemia.
Porém
estudos e análises dos médicos não foram suficientes para a implantação de meios
objetivos de eliminação das epidemias e melhores condições na salubridade. Surgem
então, os engenheiros, que traziam recursos e técnicas eficazes, comprovadamente
capazes de solucionar grandes problemas da salubridade.
Durante
o século XIX, período em que se baseia o higienismo, os médicos da época
começaram a dar soluções para tentar acabarem com as epidemias, as soluções
eram as seguintes: aterrar mangues, pântanos e brejos; arrasar colinas que
impediam a livre circulação dos ventos; alargar ruas existentes e exigir que as
novas se conformassem aos novos padrões; afastar as construções uma das outras;
exigir que todos os cômodos das habitações tivessem janelas...
Mas com o tempo os médicos
chegaram à conclusão q só essas recomendações não eram suficientes para acabar
com as epidemias. A revolução bacteriológica pasteuriana, que sacudiu a
pesquisa médica a partir de 1880, desacreditou rapidamente os postulados do
higienismo e, especial a teoria dos miasmas. Então o pensamento mudou agora as
doenças estavam diretamente ligadas com os micro-organismos transmitidos aos
seres humanos e não ligados ao meio ambiente como se acreditava.
Intervenção:
O tripé sanitarismo-circulação estética
Com
a crise do higienismo no início do século XX, o verbo higienizar foi
substituído na temática urbana por sanear. Associada a nova técnica surge a
preocupação estética da cidade, deixando para o passado os aspectos coloniais
rompendo de forma definitiva para ingressar no futuro com suas formas, cores e
designers arrojados da época. A cidade de Belo Horizonte foi projetada e
inaugurada em 1897, não sofreu a crise, pois para sua construção houve um norte
sanitarismo-circulação-estética. Diferente, a capital do Rio de Janeiro era uma
proposta de sucesso para a implantação do projeto e coube aos engenheiros da
época provar que o tripé proposto daria certo.
Os engenheiros tem um papel fundamental nesse contexto
histórico, antes de 1930 apesar de existirem planos denominados por gerais,
porém são de fato setoriais e desconectados. A partir de 1930 e após o Plano
Agache no Rio de Janeiro houve o desenvolvimento e verdadeiramente um plano
integrado de desenvolvimento urbano do país. O objetivo principal da cidade era
atender as necessidades do progresso e desfrutar de todas as vantagens
oferecidas pelo mesmo. No entanto, existia um preço a ser pago e seu valor era
alto, todavia os planejadores e administradores estavam contentes em pagar,
entretanto o custo não era apenas financeiro, no novo gasto estava inserido o
meio ambiente que não agregava valor muito menos comiseração. Teve não apenas
uma eliminação da paisagem herdada como também a paisagem natural sem nenhum
escrúpulo, preocupação ou até discernimento dos atos. O que sobrou da memória urbana se transformou
em mercadoria e hoje tem valor histórico e estético que se agrega
comercialmente.
O
controle e descontrole do espaço urbano
Para entendermos o processo
de construção do espaço urbano, e as normas impostas para a construção das
moradias destaco um trecho do livro INDÚSTRIA, TRABALHO E COTIDIANO: Brasil –
1889 A 1930, DECCA, 6ª Edição, 1995.
A
habitação
“Desde o final do século XIX o operariado
urbano-industrial, congregado nos bairros, populares e industriais, habitou
pobres e exíguas moradias, muitas vezes coletivas nos vários núcleos e centros
urbanos brasileiros. Essas moradias operárias sempre foram consideradas
insuficientes e inadequadas.” (DECCA, Pág.47).
(IBIDEM, P. 46-7 apud DECCA, 1995) “Há ainda a casinha, como
prédio independente, com frente para a rua pública e apenas considerada cortiço
pelo seu destino e espécie de construção. Pequena e insuficiente para a
população que abriga não oferecem garantia alguma pelo que respeita à higiene. O
soalho sem ventilação e asentado sobre o solo, o forro sem ventilador, os
cômodos pequenos e ainda subdivididos por biombos que os fazem ainda mais escuros,
as paredes sujas e ferido o reboco que deixa perceber a má qualidade da
alvenaria.”.
Na segunda metade do séc.
XIX o controle do espaço urbano pelo Estado deu um salto, devido ao pensamento higienista
o qual nasceu com o liberalismo na primeira metade do séc.XIX, quando o governo
começa a olhar melhor para a saúde de seus habitantes. Um relatório da Comissão
do Município de São Paulo afirma:
“É
preciso cuidar da unidade urbana, a habitação, não já da habitação privada, mas
daquela onde se acumula a classe pobre, a estalagem onde pulula a população
operária.” (São Paulo – Município, ‘Relatório da Comissão... ‘, in
Relatório do Intendente Municipal, p. 43
apud DECCA, 1995 p.48).
Contudo o modelo urbano das
colônias sofreu uma grande mudança, pois esse modelo convivia apenas com
limites entre a casa e a rua. Com o higienismo normatizações foram criadas. Por
exemplo, no período dos anos 20 as habitações então deveriam ter janelas, recuo
entre a rua e a casa, planta de casa e saneamento básico.
“Em São Paulo, já em 1893, a habitação do proletariado fabril e urbano
chamava a atenção do poder público municipal. Nesse ano uma Comissão de Exame
de Inspeção das Habitações Operárias e Cortiços fazia uma visita no Distrito de
Santa Ifigênia, investigando as condições higiênicas das moradias operárias. Tal
visita e exame eram justificados em função das epidemias que corriam na
capital.” (DECCA, 1995, p.48).
O controle dessas normas era
feito a partir dos engenheiros civis que trabalhavam para o Estado. A pessoa
que quisesse construir deveria pagar taxas e contratar engenheiros para fazer a
planta da sua casa, e como se não bastasse o morador ainda tinha que pedir
permissão para habitar a sua casa.
Entretanto, o crescimento
demográfico aumentava a cada dia e logo a situação saiu do controle, pois a
infraestrutura fornecida pelo Estado tornou-se estagnada. Somado a isto, os
habitantes muitas vezes não tinham condições financeiras para arcar com os
custos de uma construção seguindo às normas; surgem e crescem então,
consequentemente, favelas como as do Rio de Janeiro e Recife.
Nesse mesmo período surgiram
loteamentos urbanos causados pela atração que as cidades tinham para
trabalhadores, isso alterou a paisagem das grandes cidades.
ABREU, Mauricio de Almeida,
in SPOSITO, Maria Encarnação de Abreu, Urbanização e Cidades, Presidente
Prudente, 2001, paginas 35 a 44.
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