terça-feira, 18 de dezembro de 2012

A União Européia como mega bloco econômico - fichamento


A UE COMO MEGABLOCO ECONÔMICO
“O novo rumo da Europa é a consequência da crise radical de todas essas ideologias. (...) O aspecto apaixonante do que estamos construindo é que vamos inventar, se é que existem, ideologias inteiramente diferentes.”
            Há um paradoxo de base que percorre a historia da União Européia: embora a iniciativa comunitária e toda a operação de constituição de um espaço supranacional tenham sido movidas pela geopolítica, o lastro material do processo foi sempre a economia.
            O relativo sucesso, em longo prazo, do bloco econômico comunitário pode ser avaliado pelo crescimento do seu PIB conjunto, relativamente ao PIB americano.
            O efeito econômico da progressiva dissolução das barreiras – isto é, a ampliação das dimensões do mercado consumidor – pode ser avaliado pela participação da União no comercio exterior de seus integrantes. Todos os 15 exibem, no presente, um perfil de exportações e importações predominantemente vinculado às zonas comunitárias.
            Mesmo as potencias econômicas e demográficas (...) dependem do mercado comunitário para a realização de mais da metade de seu comércio exterior.
            As metas econômicas estabelecidas no Tratado de Roma – as chamadas “quatro liberdades”: de circulação de mercadorias, capitais, serviços e pessoas – foram concretizadas em 1993 com a constituição do Mercado Comum Europeu. ... assumia um papel de megabloco econômico, destinado a rivalizar com EUA e Japão.
Fusão de Soberanias
            A União Européia apresenta um traço essencial: suas relações não são puramente intergovernamentais. Isso significa que as instituições comunitárias concentram poderes próprios, que independem dos governos nacionais e aplicam-se diretamente, como força de lei, a Estados, empresas e cidadãos. A EU possui, em certo grau, o atributo de soberania, que geralmente pertence com exclusividade ao Estado.
            A soberania comunitária deriva de uma abdicação parcial de soberanias por parte do Estado.
Instituições Européias
O Conselho de Ministros
            O Conselho de Ministros é o órgão Maximo da EU. Composto por ministros de cada um dos Estados-membros, define as grandes orientações gerais da EU. (...) Exercem a presidência rotativa, com mandados de seis meses cada um.
            O Conselho decide grande parte das questões com base na regra de maioria de votos. As questões mais importantes, porem, dependem da unanimidade.
            Estas reuniões ocorrem duas ou três vezes por ano.
A Comissão Européia
            Esse órgão encarrega-se da gestão e administração cotidiana da EU. É formado por 20 membros, designados pelos governos dos países membros, para um mandado de 4 anos.
            Os integrantes da comissão não representam seus países, mas apenas os interesses da UE.
O Parlamento Europeu
            O Parlamento Europeu passou a ser formado pelo voto direto dos cidadãos dos países da comunidade em 1979. (...) Cumpre a função de controle dos atos da comissão, podendo inclusive derrubá-la com um voto de censura dado por maioria de dois terços.
            Os deputados europeus são eleitos para mandados de cinco anos. (...) Não se organizam por bancadas nacionais, mas por grupos políticos europeus.
O Comitê Econômico e Social
            O Comitê é um órgão consultivo que emite pareceres sobre grande parte das propostas da Comissão, antes de serem enviadas para a decisão do Conselho. Formado por 222 membros de entidades empresariais, sindicatos de trabalhadores, associações de agricultores e consumidores, funciona como uma câmara de pressão oficial.
O Tribunal de Justiça das Comunidades
            Formado por 15 juízes nomeados de comum acordo pelos governos, para mandados de 6 anos. (...) Ele pode anular atos da Comissão, do Conselho ou de um Estado-membro se forem incompatíveis com os tratados. Também interpreta o direito comunitário em casos controversos, a pedido dos tribunais nacionais.
O Tribunal de Contas
            O Tribunal de Contas controla a gestão do orçamento da UE. (...) Essas despesas são cobertas por contribuições nacionais e também por recursos próprios da União, provenientes de impostos e taxas.

A UE e Os Desequilíbrios Regionais
            A União Européia jamais foi um conjunto homogêneo, sob o ponto de vista das características econômicas e sociais de seus componentes.
            O primeiro tipo de desequilíbrio, óbvio, mas importante, decorre do peso demográfico muito desigual dos países membros.
            Entretanto, a principal disparidade entre os membros da União reside nas diferenças de potencial das suas economias. Uma forma de mensurar essas diferenças é comparar o PIB dos 15.
            O PIB total revela o potencial produtivo e as dimensões do mercado consumidor, mas esconde o nível de vida das populações e o grau de desenvolvimento das economias.
            A análise do consumo energético per capita é também significativa, pois deixa entrever a presença de vastas regiões caracterizadas por técnicas arcaicas de produção rural, fundamentadas na força humana e animal.
            A União é considerada um conjunto de países ricos e prósperos (...) entretanto, a distribuição da riqueza no interior do espaço comunitário apresenta fortes desigualdades, tantos sociais como regionais (...) quase 15% da população comunitária se encontra abaixo do limite oficial de pobreza.
            Os espaços periféricos da União são objetos de uma política de ajuda regional europeia, destinada à adaptação de suas economias. O Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional financia programas de adaptação estrutural para as regiões consideradas atrasadas.
            As periferias comunitárias são regiões predominantemente rurais em países ricos. (...) Como regra, as atividades agropecuárias tradicionais apresentam ainda uma participação significativa na vida econômica dessas periferias.
            A integração dos espaços periféricos à Comunidade tende a transformá-los em zonas de investimentos industriais seletivos. O custo relativamente baixo da força de trabalho atrai industrias baseadas em tecnologias tradicionais e uso intensivo de mão de obra.  (...) A Europa dos quinze recria, no seu interior, espaços de subdesenvolvimento subordinados às estratégias empresariais decididas no núcleo rico.
A Política Agrícola Comum e as Negociações do Gatt
            A Política Agrícola Comum (PAC) nasceu em 1962, formada por cotas dos Estados repartidas de acordo com sua potencia econômica. (...) A França modernizou sua economia rural e tronou-se o segundo exportador mundial de cereais com base no trampolim comunitário.
            A proteção do mercado europeu e a ajuda direta dos produtores criaram um ambiente propício ao crescimento acelerado da produtividade agrícola no espaço comunitário. Defendidos das flutuações de preços do mercado mundial e da concorrência dos tradicionais exportadores de alimentos, os agricultores comunitários desenvolveram capacidades produtivas impressionantes.
            Na década de 1980, a modernização acelerada determinou forte concentração regional da produção e ampliou as disparidades entre os agricultores prósperos e os agricultores tradicionais. (...) A intensificação da produção e a mecanização agrícola provocaram forte despovoamento de zonas rurais, alem de degradação ambiental e redução de qualidade dos produtos.
            Os agricultores adaptaram –se as reformas restringindo o plantio de cereais e a produção de laticínios, mas ampliando as culturas de oleaginosas (soja e girassol) e os rebanhos bovinos de gado de corte.
            A guerra de mercados agrícolas intensificava-se com a estagnação da demanda, motivada pela saturação dos países ricos e pelo impacto da recessão econômica internacional sobre os países pobres. Em consequência, os preços apresentavam tendência ao declínio e ampliavam-se as reservas de alimentos nos países exportadores. Essa conjuntura foi responsável pela intensificação das políticas de “ajuda alimentar permanente” aos países africanos, acarretando desorganização das produções de mercado interno na África e dramatizando a dependência alimentar do continente.
            A guerra agrícola entre a CE e os EUA tornou-se o foco das negociações comerciais multilaterais abertas pelo Acordo Geral de Tarifas e Comercio (GATT).
            Em maio de 1992, sob forte pressão americana, a CE deflagrou um programa de reforma ampla do PAC.
            A reforma não diminuía o nível total de subsídios ao setor agrícola, mas os redirecionava. Em vez do aumento da produção e da produtividade; os subsídios deveriam ajudar a conter a produção e reduzir os desníveis sociais e regionais no campo.

O Mercado Único Europeu
            O Grande mercado interno é um conceito baseado nas chamadas ‘quatro liberdades’.
            A realização dessa meta foi organizada em torno do Livro Branco Europeu, um conjunto de 282 medidas isoladas, definidas pela comissão em 1985 como essenciais para o mercado comum. Essas medidas envolviam basicamente, a harmonização dos impostos e taxas nacionais, a desburocratização das normas de transporte entre países, a eliminação de formalidades alfandegárias e a supressão dos controles de passaporte incidentes sobre os cidadãos da CE.
            A Europa erguia um muro invisível contra os imigrantes, enquanto prometia a total liberdade para os europeus.
            Aos naturais da União (pessoas nascidas nos países membros) ficam assegurados os direitos de circulação previstos. Já os demais residentes ficam impedidos de mudar livremente de país de residência no interior do espaço comunitário.
            Se a circulação de pessoas está fundada na discriminação, o mesmo não ocorre com a circulação de capitais e com os investimentos. A remoção das barreiras entre os Quinze tende a acelerar o processo de integração industrial da União.
            Em vez de fusões e aquisições intracomunitárias, ocorrem principalmente associações entre conglomerados nacionais (franceses, alemães, britânicos...) e parceiros americanos ou asiáticos. Através dessas associações as megaempresas mundiais ingressam no espaço comunitário europeu e beneficiam-se das vantagens da remoção das barreiras econômicas nacionais.
            O welfare State (Estado de Bem Estar Social) consiste num conjunto de medidas sócio econômicas destinadas a promover a redistribuição da riqueza, reduzindo os contrastes de renda típicos das economias de mercado. São medidas nos campos de previdência, segurança, no emprego, educação e saúde, voltadas para a criação de proteções contra a pobreza e a exclusão social.
            A integração europeia avançou paralelamente ao processo de descolonização afro-asiática. Esses dois eventos não são apenas concomitantes: subordinam-se a mesma conjuntura histórica. A Guerra Fria, ambiente marcado pela bipolaridade do poder planetário, foi o cenário estratégico tanto da unificação da Europa ocidental quanto da ruptura dos laços coloniais que prendiam os territórios afro-asiáticos às potencias europeias.
MAGNOLI, Demétrio. A UE como Megabloco Econômico. A União Européia: história e geopolítica. São Paulo, Moderna, 1995, p 43-62. 

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