NORTE X SUL OU A
FRAGMENTAÇÃO DO TERCEIRO MUNDO
A
tendência atual é apresentar o Terceiro Mundo como “Sul”, numa divisão global
Norte/Sul entre ricos e pobres.
A
produção de aço, a utilização da eletricidade e do petróleo, o aperfeiçoamento
dos motores a combustão interna e a emergência da indústria do automóvel, o
desenvolvimento do transporte ferroviário – todas essas transformações abriram
a era da produção industrial moderna.
Na
Europa centro-ocidental, nos Estados Unidos e no Japão, a nova revolução
industrial provocou um crescimento exponencial da produção e do consumo,
catalisou a concentração dos capitais e estimulou o êxodo rural e a
urbanização. Esse conjunto de países decolava rumo a modernidade econômica e à
construção de uma estrutura social complexa.
Os
focos da nova revolução industrial redefiniram segundo as suas necessidades, a
estrutura da economia internacional.
O
mundo que emergiu da Segunda Guerra tinha pouca semelhança com o cenário
precedente. A derrocada européia e a emergência das superpotências antagônicas
anunciavam o conflito Leste/Oeste. A disparidade entre as economias industriais
e a periferia agromineral refletia a tensão Norte/Sul. A Geografia procurou
captar a nova organização econômica e geopolítica do planeta formulando a
concepção da divisão do sistema internacional em três macroáereas. Nasciam o
Primeiro Mundo, o Segundo Mundo e o Terceiro Mundo.
O
Primeiro Mundo correspondia ao grupo de Países que tendo realizado a Segunda
Revolução Industrial, dispunha de um parque industrial complexo, formado pelos
setores de bens de capital e de bens de consumo duráveis. Englobava, na Europa,
na America no Norte e no Pacifico, os aliados políticos dos Estados Unidos –
potencia líder do Ocidente. O segundo Mundo correspondia a União Soviética e
sua zona de influencia no Leste europeu. Era o mundo do “socialismo real”. O
Terceiro Mundo correspondia aos países que não acompanharam a arranca industrial,
cuja economia dependia da produção de bens primários agrominerais.
O
conflito entre o mundo capitalista e o socialista (disputa Leste-Oeste)
refletia a ruptura da economia mundial em sistemas econômicos contrapostos e
isolamento acentuado dos países socialistas em relação aos fluxos
internacionais de capitais e mercadorias.
As
relações entre o Primeiro e o Terceiro Mundo refletiam a subordinação econômica
derivada da desigual distribuição do capital e da tecnologia. A troca de
mercadorias industriais por matérias-primas agrícolas ou minerais modelava as
estruturas econômicas dos países do Terceiro Mundo de acordo com as
necessidades dos mercados consumidores dos países do Primeiro Mundo.
Prosperidade social dos países desenvolvidos contrastava com a persistência da
pobreza e da miséria nos países subdesenvolvidos. Nisso constituía a tensão
Norte-Sul.
Entretanto
a emergência das empresas transnacionais remodelava os antigos laços de
dependência baseada no comercio de manufaturados e matérias-primas.
A
industrialização de certas zonas da periferia capitalista gerava realidades
novas no Terceiro mundo. Logo todo um grupo de países subdesenvolvidos deixou
de apoiar sua produção nas atividades primarias, desenvolvendo vastos parques
industriais e uma expressiva atividade terciaria.
GLOBALIZAÇÃO E
REGIONALIZAÇÃO
Duas
espacialidades complementares e contraditórias atuavam no mercado mundial
capitalista. De um lado, a espacialidade das transnacionais, que atuavam no
espaço internacional. De outro, a espacialidade dos estados, que exercem um
controle sobre o espaço nacional.
Nos
países subdesenvolvidos que conheciam processos de modernização industrial, a
tensão as fronteiras políticas nacionais e os fluxos internacionais de
mercadorias e capitais geraram políticas protecionistas: elas visavam atrair as
filiais das grandes empresas para o interior das fronteiras nacionais. Essa
estratégia combinava-se com a intervenção direta dos estados na economia.
Nos
países socialistas, monopólio estatal dos méis de produção e do comercio
exterior representou a supressão da espacialidade das empresas transnacionais.
Enquanto na economia capitalista o estado funcionava como corredor das
tendências do mercado, na economia socialista agia como substituto do mercado.
Uma
nova “revolução industrial” – na realidade, uma revolução tecnocientífica –
realizava-se nos países do Primeiro Mundo, em especial no Japão e nos Estados
Unidos. A aplicação direta da pesquisa cientifica avançada na criação de novas
tecnologias revolucionou os métodos de produção e lançou ao mercado produtos
novos.
Os
países do Segundo e Terceiro Mundo, incapazes de acompanhar a revolução
tecnocientífica em curso, conheceram processos de crise econômica e
obsolescência tecnológica. No mundo socialista (...) constituiu uma nova
tentativa de as novas condições, fracassou e a contestação política ao sistema
de partido único determinaram o desmantelamento do bloco soviético.
A
revolução tecnocientifica originou um novo movimento de concentração e
centralização de capitais.
A
expressão mais nítida do predomínio da espacialidade transnacional consiste na
formação de megablocos supranacionais. No interior dos megablocos, reduzem-se
os obstáculos para a circulação de mercadorias e capitais, criando-se condições
para um novo patamar de unificação dos mercados. A velha ordem da Guerra Fria
fundada na bipolaridade geopolítica dá lugar a uma nova ordem multipolar.
Duas
tendências convivem e conflitam na economia mundial. A tendência à globalização
do mercado estimula os fluxos internacionais de mercadorias e os investimentos.
A tendência a regionalização dos mercados atua no sentido de erguer barreiras
protetoras entre os megablocos, protegendo a esfera de influencia de cada uma
das grandes zonas econômicas. Essa ultima pendência aponta para o horizonte de
verdadeiras guerras comerciais e financeiras entre os megablocos.
Fichamento por Kelly
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O ESPAÇO MUNDIAL E A
POBREZA
O
desenvolvimento econômico assume padrões crescentemente perversos,
marginalizando parcelas maiores da população.
A
crise da divida externa, deflagrada pela elevação dos juros internacionais
desde o final dos anos 70, continua a se agravar.
Ao
mesmo tempo que as dividas externas cresciam, os preços internacionais das
matérias primas agrominerais entravam em queda livre. Assim, depois da década
de 70, as rendas provenientes de produtos de exportação dos países pobres, como
o café, o carvão e o estanho, reduziam-se sensivelmente.
Enquanto
preços dos produtos primários evoluíam negativamente, os preços dos produtos
industriais mantinham tendência de elevação, aumentando 37% entre 1980 e 1990.
Contudo
a imagem de um mundo fraturado entre o Norte rico e o Sul pobre não resiste a
uma analise em outra escala, que revela a dominação da pobreza na Europa
ocidental e na America do Norte. Na escala continental, vastos espaços de
pobreza formam-se em torno do núcleo prospero da CEE, constituído pela Alemanha,
França e Benelux. Na escala nacional, a pobreza atinge regiões dos Estados
Unidos e dos países da Europa rica. Na escala local, as periferias das grandes
americanas e européias assemelham-se cada vez mais às periferias das metrópoles
latino-americanas.
Nos
Estados Unidos, as políticas neoliberais postas em pratica na década de 1980
por Reagan geraram a expansão descontrolada de déficit federa. (...) A escala
do déficit correspondeu a uma política voltada para a ampliação do consumo, que
levou o pais a viver em níveis muito superiores as suas riquezas.
A
desregulamentação do mercado de trabalho e a elevação do desemprego geram a
disseminação do trabalho temporário e do subemprego.
A
revolução tecnocientifica das duas ultimas décadas parece ter produzido um
fenômeno novo: a ampliação estrutural do desemprego. A forte concentração de
renda que a acompanha tende a reduzir, pela primeira vez na historia, o tamanho
dos mercados consumidores.
O
núcleo próspero da CEE _ Desde a década de 1970, o estreitamento do mercado de
trabalho provocado pelo esgotamento do ciclo de reconstrução econômica vem
provocando o acirramento da competição entre mão-de-obra nacional e dos
imigrantes.
A
combinação da recessão econômica com a ampliação dos fluxos migratórios esta na
raiz do crescimento a intolerância política e social com os estrangeiros, que
se manifesta pelo estreitamento dos agrupamentos de extrema direita.
Na
“nova ordem” mundial, o Terceiro Mundo esta em todos os lugares.Esfumando os
limites cartográficos tradicionais, expressos pela divisão Norte-Sul, a pobreza
invadiu as fortalezas protegidas do Primeiro Mundo, disseminando-se nas
metrópoles e regiões industriais da Europa ocidental e dos Estados Unidos.
MAGNOLI,
Demétrio, Norte X Sul ou a Fragmentação do Terceiro Mundo. O Novo Mapa do
Mundo. São Paulo: Moderna, 1993, p. 46 – 62.
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