terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Norte X sul ou a fragmentação do terceiro mundo - fichamento


NORTE X SUL OU A FRAGMENTAÇÃO DO TERCEIRO MUNDO
A tendência atual é apresentar o Terceiro Mundo como “Sul”, numa divisão global Norte/Sul entre ricos e pobres.
A produção de aço, a utilização da eletricidade e do petróleo, o aperfeiçoamento dos motores a combustão interna e a emergência da indústria do automóvel, o desenvolvimento do transporte ferroviário – todas essas transformações abriram a era da produção industrial moderna.
Na Europa centro-ocidental, nos Estados Unidos e no Japão, a nova revolução industrial provocou um crescimento exponencial da produção e do consumo, catalisou a concentração dos capitais e estimulou o êxodo rural e a urbanização. Esse conjunto de países decolava rumo a modernidade econômica e à construção de uma estrutura social complexa.
Os focos da nova revolução industrial redefiniram segundo as suas necessidades, a estrutura da economia internacional.
O mundo que emergiu da Segunda Guerra tinha pouca semelhança com o cenário precedente. A derrocada européia e a emergência das superpotências antagônicas anunciavam o conflito Leste/Oeste. A disparidade entre as economias industriais e a periferia agromineral refletia a tensão Norte/Sul. A Geografia procurou captar a nova organização econômica e geopolítica do planeta formulando a concepção da divisão do sistema internacional em três macroáereas. Nasciam o Primeiro Mundo, o Segundo Mundo e o Terceiro Mundo.
O Primeiro Mundo correspondia ao grupo de Países que tendo realizado a Segunda Revolução Industrial, dispunha de um parque industrial complexo, formado pelos setores de bens de capital e de bens de consumo duráveis. Englobava, na Europa, na America no Norte e no Pacifico, os aliados políticos dos Estados Unidos – potencia líder do Ocidente. O segundo Mundo correspondia a União Soviética e sua zona de influencia no Leste europeu. Era o mundo do “socialismo real”. O Terceiro Mundo correspondia aos países que não acompanharam a arranca industrial, cuja economia dependia da produção de bens primários agrominerais.
O conflito entre o mundo capitalista e o socialista (disputa Leste-Oeste) refletia a ruptura da economia mundial em sistemas econômicos contrapostos e isolamento acentuado dos países socialistas em relação aos fluxos internacionais de capitais e mercadorias.
As relações entre o Primeiro e o Terceiro Mundo refletiam a subordinação econômica derivada da desigual distribuição do capital e da tecnologia. A troca de mercadorias industriais por matérias-primas agrícolas ou minerais modelava as estruturas econômicas dos países do Terceiro Mundo de acordo com as necessidades dos mercados consumidores dos países do Primeiro Mundo. Prosperidade social dos países desenvolvidos contrastava com a persistência da pobreza e da miséria nos países subdesenvolvidos. Nisso constituía a tensão Norte-Sul.
Entretanto a emergência das empresas transnacionais remodelava os antigos laços de dependência baseada no comercio de manufaturados e matérias-primas. 
A industrialização de certas zonas da periferia capitalista gerava realidades novas no Terceiro mundo. Logo todo um grupo de países subdesenvolvidos deixou de apoiar sua produção nas atividades primarias, desenvolvendo vastos parques industriais e uma expressiva atividade terciaria.
GLOBALIZAÇÃO E REGIONALIZAÇÃO
Duas espacialidades complementares e contraditórias atuavam no mercado mundial capitalista. De um lado, a espacialidade das transnacionais, que atuavam no espaço internacional. De outro, a espacialidade dos estados, que exercem um controle sobre o espaço nacional.
Nos países subdesenvolvidos que conheciam processos de modernização industrial, a tensão as fronteiras políticas nacionais e os fluxos internacionais de mercadorias e capitais geraram políticas protecionistas: elas visavam atrair as filiais das grandes empresas para o interior das fronteiras nacionais. Essa estratégia combinava-se com a intervenção direta dos estados na economia.
Nos países socialistas, monopólio estatal dos méis de produção e do comercio exterior representou a supressão da espacialidade das empresas transnacionais. Enquanto na economia capitalista o estado funcionava como corredor das tendências do mercado, na economia socialista agia como substituto do mercado.
Uma nova “revolução industrial” – na realidade, uma revolução tecnocientífica – realizava-se nos países do Primeiro Mundo, em especial no Japão e nos Estados Unidos. A aplicação direta da pesquisa cientifica avançada na criação de novas tecnologias revolucionou os métodos de produção e lançou ao mercado produtos novos.
Os países do Segundo e Terceiro Mundo, incapazes de acompanhar a revolução tecnocientífica em curso, conheceram processos de crise econômica e obsolescência tecnológica. No mundo socialista (...) constituiu uma nova tentativa de as novas condições, fracassou e a contestação política ao sistema de partido único determinaram o desmantelamento do bloco soviético.
A revolução tecnocientifica originou um novo movimento de concentração e centralização de capitais.
A expressão mais nítida do predomínio da espacialidade transnacional consiste na formação de megablocos supranacionais. No interior dos megablocos, reduzem-se os obstáculos para a circulação de mercadorias e capitais, criando-se condições para um novo patamar de unificação dos mercados. A velha ordem da Guerra Fria fundada na bipolaridade geopolítica dá lugar a uma nova ordem multipolar.
Duas tendências convivem e conflitam na economia mundial. A tendência à globalização do mercado estimula os fluxos internacionais de mercadorias e os investimentos. A tendência a regionalização dos mercados atua no sentido de erguer barreiras protetoras entre os megablocos, protegendo a esfera de influencia de cada uma das grandes zonas econômicas. Essa ultima pendência aponta para o horizonte de verdadeiras guerras comerciais e financeiras entre os megablocos.

Fichamento por Kelly Leão            >>>
O ESPAÇO MUNDIAL E A POBREZA
O desenvolvimento econômico assume padrões crescentemente perversos, marginalizando parcelas maiores da população.
A crise da divida externa, deflagrada pela elevação dos juros internacionais desde o final dos anos 70, continua a se agravar.
Ao mesmo tempo que as dividas externas cresciam, os preços internacionais das matérias primas agrominerais entravam em queda livre. Assim, depois da década de 70, as rendas provenientes de produtos de exportação dos países pobres, como o café, o carvão e o estanho, reduziam-se sensivelmente.
Enquanto preços dos produtos primários evoluíam negativamente, os preços dos produtos industriais mantinham tendência de elevação, aumentando 37% entre 1980 e 1990.
Contudo a imagem de um mundo fraturado entre o Norte rico e o Sul pobre não resiste a uma analise em outra escala, que revela a dominação da pobreza na Europa ocidental e na America do Norte. Na escala continental, vastos espaços de pobreza formam-se em torno do núcleo prospero da CEE, constituído pela Alemanha, França e Benelux. Na escala nacional, a pobreza atinge regiões dos Estados Unidos e dos países da Europa rica. Na escala local, as periferias das grandes americanas e européias assemelham-se cada vez mais às periferias das metrópoles latino-americanas.
Nos Estados Unidos, as políticas neoliberais postas em pratica na década de 1980 por Reagan geraram a expansão descontrolada de déficit federa. (...) A escala do déficit correspondeu a uma política voltada para a ampliação do consumo, que levou o pais a viver em níveis muito superiores as suas riquezas.
A desregulamentação do mercado de trabalho e a elevação do desemprego geram a disseminação do trabalho temporário e do subemprego.
A revolução tecnocientifica das duas ultimas décadas parece ter produzido um fenômeno novo: a ampliação estrutural do desemprego. A forte concentração de renda que a acompanha tende a reduzir, pela primeira vez na historia, o tamanho dos mercados consumidores.
O núcleo próspero da CEE _ Desde a década de 1970, o estreitamento do mercado de trabalho provocado pelo esgotamento do ciclo de reconstrução econômica vem provocando o acirramento da competição entre mão-de-obra nacional e dos imigrantes.
A combinação da recessão econômica com a ampliação dos fluxos migratórios esta na raiz do crescimento a intolerância política e social com os estrangeiros, que se manifesta pelo estreitamento dos agrupamentos de extrema direita.
Na “nova ordem” mundial, o Terceiro Mundo esta em todos os lugares.Esfumando os limites cartográficos tradicionais, expressos pela divisão Norte-Sul, a pobreza invadiu as fortalezas protegidas do Primeiro Mundo, disseminando-se nas metrópoles e regiões industriais da Europa ocidental e dos Estados Unidos.
MAGNOLI, Demétrio, Norte X Sul ou a Fragmentação do Terceiro Mundo. O Novo Mapa do Mundo. São Paulo: Moderna, 1993, p. 46 – 62.

Nenhum comentário:

Postar um comentário