A
Urbanização e a Cidade Corporativas
Diante da nova ordem econômica
mundial, o Brasil pós 64 se vê na necessidade de se adequar a esta atualidade
ao mesmo tempo em que demanda atender as necessidades de desenvolvimento
interno. A força motriz para atingir este objetivo vem dos avanços nas redes de
transportes e comunicação que diminuem (se não eliminam) as imposições tempo –
espaço.
Com isso, as grandes empresas que
antes se concentravam no Sudeste, começam a usufruir do restante do território
brasileiro, antes inatingível devido às precárias condições de transporte e
comunicação. Isso torna as grandes empresas cada vez mais fortes, estando
presente em mais mercados consumidores, legitimando certos monopólios, já que
os pequenos empresários não tem como competir com as poucas corporações que
dominam o cenário. Isso se deu de forma rápida uma vez que estas poucas
empresas envolvidas na massiva produção e consumo podiam controlar suas filiais
de longa distancia. Entre estas empresas, um número considerável de
multinacionais se fazia presente.
Segundo Florestan Fernandes, o
período coincide com o inicio do domínio das Américas por multinacionais que
chegam com seus próprios meios de produção e divulgação de seus produtos. A
economia interna sujeita-se, portanto às empresas que vem de fora para atender
as suas demandas internas e de exportação.
A
Produção do Espaço Necessário aos Grandes Capitais
Entra em cena, o capital monopolista
que demanda de investimentos astronômicos em infraestrutura e rede de
transportes para a circulação e escoamento da produção das corporações. Ocorre
ao mesmo tempo que, o governo federal passa a controlar o destino dos recursos
públicos, agindo de acordo com seus interesses e deixando as administrações
municipais cada vez mais fracas e desamparadas. Nesse caso, esses interesses
federais já vêm maculados por ideologias de crescimento nascidas em décadas
anteriores, onde atraindo para si as grandes empresas, o Brasil poderia através
das exportações, atingir cada vez mais uma posição de destaque no cenário
econômico mundial, além é claro, de prosperar sua pópria economia interna.
Contudo para atrair essas empresas, o governo federal não poupou recursos,
deixando as administrações locais sem os meios necessários para desenvolver o
país do local para o regional e assim por diante, a partir de políticas de wallferstate, investindo no social uma
parcela medíocre da receita.
Em outras palavras, temos o governo
federal tomando recursos das administrações municiais para investir na
construção de um espaço que permita atrair as corporações que tiranizam a
concorrência, corporações cada vez mais hegemônicas e onipresentes. Em
contrapartida, os investimentos sociais e locais são cada vez mais escassos.
O
Espaço da Modernização Contemporânea
Ainda seguindo as ideologias de
crescimento, a modernização gera sim um espaço propício e atrativo para as
grandes empresas que chegam a se instalar em lugares cada vez mais distantes,
eliminando a concorrência das pequenas e médias empresas, gerando assim, cada
vez mais riqueza para si e, cada vez mais pobreza para a cidade onde se
instalam. Esse movimento se dá com o apoio do governo que intui pela
‘modernização’.
No ramo agrícola ocorre o mesmo
processo, grandes empresas passam a dominar a produção e o pequeno produtor
rural, incapaz de competir e manter seus impostos em dia, se vê fadado ao
fracasso.
A modernização contemporânea impõe
aos governos a perda do seu controle político e econômico sobre o território e
acarreta que os interesses da população são deixados de lado para se atender
aos interesses do capital. Não seria errado dizer que são os governos que
trabalham para as grandes empresas.
A
Ação Política das Grandes Empresas
As grandes empresas tendem a se
beneficiar da mais valia, gerando cada vez maiores lucros para si em detrimento
do trabalhadores. Com isso pode investir em tecnologias ou mesmo na criação de
filais que a tornem cada vez mais ricas, dessa forma, aumenta o seu poder no
mercado e também no meio político cujos interesses em modernização tendem a
beneficiar essas grandes e ‘promissoras’ empresas, negligenciando das menores.
O poder político se sujeita cada vez mais diretamente às corporações, cujos
interesses estão sempre em primeiro plano e somente depois a economia local e a
sociedade são vistas pelo governo.
Tecnosfera,
Psicosfera e Urbanização Corporativa
O Estado controla os investimentos
determinantes para organização e planejamento do território. Este processo de
‘modernização’ ao qual o país se sujeitou aconteceu rapidamente, e as mudanças
no espaço acarretaram uma série de consequências aos processos de urbanização.
As cidades crescem de maneira
desordenada e dispersa, suas funções atendem aos interesses nacionais, que nada
mais são além dos interesses das corporações às quais o governo se submete.
Elas se sujeitam à urbanização corporativa, onde cada cidade tem sua atividade
central atendendo aos interesses do estado em si, alem disso, no caso das
metrópoles, estão cada vez mais criando mecanismos que facilitem a chegada e
permanência das grandes empresas.
Essa adequação do território para
acolher as corporações tem intrínseca, uma origem um tanto ordinária: consumo.
As corporações visam produzir gastando o mínimo possível e estando presente em
um maior numero de mercados para atingir ‘consumidores’. Sim, a população,
desse ponto de vista do capital, é consumidora e não cidadã.
Contradições
da Cidade Corporativa
Na cidade corporativa, cabe ao
Estado prover os meios e equipamentos que atendam às necessidades das grandes
empresas e, com a mínima parcela de suas receitas camuflam seu descaso
referente às pequenas empresas e à população, a sociedade em geral. Isso ocorre
sob o intuito de que, através da receita dessas grandes empresas, o Brasil
tenham sua economia fortificada e as atividades de exportação atinjam os
patamares adequados à modernização. Mas, para atingir esta meta, o governo
fecha negligencia a população que, marginalizada aumenta os índices de pobreza
em todos os lugares. O que interessa à metrópole corporativa é a produção de
capital e não o controle da pobreza.
O governo sabota a si mesmo através
de programas que deveriam solucionar problemas da urbanização corporativa mas
na verdade, os agravam como é o caso do BNH, cujo intuito era solucionar o
problema de habitação das classes mais baixas. No final das contas, o dinheiro
que vinha do FGTS recolhido dos trabalhadores para o projeto, acabou por
financiar construções de empresas privadas que atenderam a população que tinha
maiores condições de arcar com as parcelas, o restante, também oriundo do FGTS
era destinado a modernizar as infraestruturas urbanas de modo a atrair ou
facilitar a presença das grandes empresas na cidade. Com isso, o pobre incapaz
de adquirir seu imóvel financiado, foi sendo levado, pelas circunstancias a se
instalar em locais cada vez mais distantes, originando a dispersão já
mencionada que caracteriza o rápido crescimento das cidades.
Outro projeto do governo nos mesmos
moldes foi o C.U.R.A que promovia obras
de infraestrutura e modernizações em cidades de médio e grande porte que
pudessem atrais mais empresas. Isso gerou ainda mais especulação imobiliária e
os chamados vazios urbanos do que o projeto do BNH. Os serviços de melhorias
promovidos na cidade pelo projeto pesavam sobre os baixos orçamentos da
população pobre que se via obrigada a mudar-se para lugares mais afastados, em
sua maioria ainda desertos, sem os serviços básicos de transporte, esgoto,
asfalto, etc. Ambos os programas beneficiaram as grandes empresas e
marginalizaram e segregaram o pobre.
Os
Novos Recortes Espaciais
Na atualidade temos um território
dinâmico graças aos investimentos e avanços nas comunicações e transportes alem
das infraestruturas nas cidades e em todo o espaço. Contudo somente as grandes
empresas fazem uso de todo esse aparato estrutural que promove a produção de
capital e assim matem a hegemonia de mercado. Essas empresas, em geral sediadas
nas grandes metrópoles, fazem-se presentes ao longo de todo o território
brasileiro, em locais estrategicamente escolhidos de acordo com seus
interesses.
Sintese de Milton Santos
Nenhum comentário:
Postar um comentário