terça-feira, 18 de dezembro de 2012

A urbanização e Cidades corporativas - fichamento


A Urbanização e a Cidade Corporativas
            Diante da nova ordem econômica mundial, o Brasil pós 64 se vê na necessidade de se adequar a esta atualidade ao mesmo tempo em que demanda atender as necessidades de desenvolvimento interno. A força motriz para atingir este objetivo vem dos avanços nas redes de transportes e comunicação que diminuem (se não eliminam) as imposições tempo – espaço.
            Com isso, as grandes empresas que antes se concentravam no Sudeste, começam a usufruir do restante do território brasileiro, antes inatingível devido às precárias condições de transporte e comunicação. Isso torna as grandes empresas cada vez mais fortes, estando presente em mais mercados consumidores, legitimando certos monopólios, já que os pequenos empresários não tem como competir com as poucas corporações que dominam o cenário. Isso se deu de forma rápida uma vez que estas poucas empresas envolvidas na massiva produção e consumo podiam controlar suas filiais de longa distancia. Entre estas empresas, um número considerável de multinacionais se fazia presente.
            Segundo Florestan Fernandes, o período coincide com o inicio do domínio das Américas por multinacionais que chegam com seus próprios meios de produção e divulgação de seus produtos. A economia interna sujeita-se, portanto às empresas que vem de fora para atender as suas demandas internas e de exportação.

A Produção do Espaço Necessário aos Grandes Capitais
            Entra em cena, o capital monopolista que demanda de investimentos astronômicos em infraestrutura e rede de transportes para a circulação e escoamento da produção das corporações. Ocorre ao mesmo tempo que, o governo federal passa a controlar o destino dos recursos públicos, agindo de acordo com seus interesses e deixando as administrações municipais cada vez mais fracas e desamparadas. Nesse caso, esses interesses federais já vêm maculados por ideologias de crescimento nascidas em décadas anteriores, onde atraindo para si as grandes empresas, o Brasil poderia através das exportações, atingir cada vez mais uma posição de destaque no cenário econômico mundial, além é claro, de prosperar sua pópria economia interna. Contudo para atrair essas empresas, o governo federal não poupou recursos, deixando as administrações locais sem os meios necessários para desenvolver o país do local para o regional e assim por diante, a partir de políticas de wallferstate, investindo no social uma parcela medíocre da receita.
            Em outras palavras, temos o governo federal tomando recursos das administrações municiais para investir na construção de um espaço que permita atrair as corporações que tiranizam a concorrência, corporações cada vez mais hegemônicas e onipresentes. Em contrapartida, os investimentos sociais e locais são cada vez mais escassos.

O Espaço da Modernização Contemporânea
            Ainda seguindo as ideologias de crescimento, a modernização gera sim um espaço propício e atrativo para as grandes empresas que chegam a se instalar em lugares cada vez mais distantes, eliminando a concorrência das pequenas e médias empresas, gerando assim, cada vez mais riqueza para si e, cada vez mais pobreza para a cidade onde se instalam. Esse movimento se dá com o apoio do governo que intui pela ‘modernização’.
            No ramo agrícola ocorre o mesmo processo, grandes empresas passam a dominar a produção e o pequeno produtor rural, incapaz de competir e manter seus impostos em dia, se vê fadado ao fracasso.
            A modernização contemporânea impõe aos governos a perda do seu controle político e econômico sobre o território e acarreta que os interesses da população são deixados de lado para se atender aos interesses do capital. Não seria errado dizer que são os governos que trabalham para as grandes empresas.

A Ação Política das Grandes Empresas
            As grandes empresas tendem a se beneficiar da mais valia, gerando cada vez maiores lucros para si em detrimento do trabalhadores. Com isso pode investir em tecnologias ou mesmo na criação de filais que a tornem cada vez mais ricas, dessa forma, aumenta o seu poder no mercado e também no meio político cujos interesses em modernização tendem a beneficiar essas grandes e ‘promissoras’ empresas, negligenciando das menores. O poder político se sujeita cada vez mais diretamente às corporações, cujos interesses estão sempre em primeiro plano e somente depois a economia local e a sociedade são vistas pelo governo.

Tecnosfera, Psicosfera e Urbanização Corporativa
            O Estado controla os investimentos determinantes para organização e planejamento do território. Este processo de ‘modernização’ ao qual o país se sujeitou aconteceu rapidamente, e as mudanças no espaço acarretaram uma série de consequências aos processos de urbanização.
            As cidades crescem de maneira desordenada e dispersa, suas funções atendem aos interesses nacionais, que nada mais são além dos interesses das corporações às quais o governo se submete. Elas se sujeitam à urbanização corporativa, onde cada cidade tem sua atividade central atendendo aos interesses do estado em si, alem disso, no caso das metrópoles, estão cada vez mais criando mecanismos que facilitem a chegada e permanência das grandes empresas.
            Essa adequação do território para acolher as corporações tem intrínseca, uma origem um tanto ordinária: consumo. As corporações visam produzir gastando o mínimo possível e estando presente em um maior numero de mercados para atingir ‘consumidores’. Sim, a população, desse ponto de vista do capital, é consumidora e não cidadã.

Contradições da Cidade Corporativa
            Na cidade corporativa, cabe ao Estado prover os meios e equipamentos que atendam às necessidades das grandes empresas e, com a mínima parcela de suas receitas camuflam seu descaso referente às pequenas empresas e à população, a sociedade em geral. Isso ocorre sob o intuito de que, através da receita dessas grandes empresas, o Brasil tenham sua economia fortificada e as atividades de exportação atinjam os patamares adequados à modernização. Mas, para atingir esta meta, o governo fecha negligencia a população que, marginalizada aumenta os índices de pobreza em todos os lugares. O que interessa à metrópole corporativa é a produção de capital e não o controle da pobreza.
            O governo sabota a si mesmo através de programas que deveriam solucionar problemas da urbanização corporativa mas na verdade, os agravam como é o caso do BNH, cujo intuito era solucionar o problema de habitação das classes mais baixas. No final das contas, o dinheiro que vinha do FGTS recolhido dos trabalhadores para o projeto, acabou por financiar construções de empresas privadas que atenderam a população que tinha maiores condições de arcar com as parcelas, o restante, também oriundo do FGTS era destinado a modernizar as infraestruturas urbanas de modo a atrair ou facilitar a presença das grandes empresas na cidade. Com isso, o pobre incapaz de adquirir seu imóvel financiado, foi sendo levado, pelas circunstancias a se instalar em locais cada vez mais distantes, originando a dispersão já mencionada que caracteriza o rápido crescimento das cidades.
            Outro projeto do governo nos mesmos moldes foi o C.U.R.A  que promovia obras de infraestrutura e modernizações em cidades de médio e grande porte que pudessem atrais mais empresas. Isso gerou ainda mais especulação imobiliária e os chamados vazios urbanos do que o projeto do BNH. Os serviços de melhorias promovidos na cidade pelo projeto pesavam sobre os baixos orçamentos da população pobre que se via obrigada a mudar-se para lugares mais afastados, em sua maioria ainda desertos, sem os serviços básicos de transporte, esgoto, asfalto, etc. Ambos os programas beneficiaram as grandes empresas e marginalizaram e segregaram o pobre.

Os Novos Recortes Espaciais
            Na atualidade temos um território dinâmico graças aos investimentos e avanços nas comunicações e transportes alem das infraestruturas nas cidades e em todo o espaço. Contudo somente as grandes empresas fazem uso de todo esse aparato estrutural que promove a produção de capital e assim matem a hegemonia de mercado. Essas empresas, em geral sediadas nas grandes metrópoles, fazem-se presentes ao longo de todo o território brasileiro, em locais estrategicamente escolhidos de acordo com seus interesses.

Sintese de Milton Santos

Nenhum comentário:

Postar um comentário