ATENDIMENTO EDUCACIONAL
ESPECIALIZADO
Pessoa Com Surdez
Formação Continuada a Distância
de Professores para o Atendimento Educacional Especializado
Prefácio
O Ministério da Educação desenvolve
a política de educação inclusiva que pressupõe a transformação do Ensino
Regular e da Educação Especial.
Com este objetivo a Secretaria de
Educação Especial e a Secretaria de Educação a Distância promovem o curso de
Aperfeiçoamento de Professores para o Atendimento Educacional Especializado.
(...) o projeto orienta o Atendimento
Educacional Especializado nas salas de recursos multifuncionais em turno oposto
ao frequentado nas turmas comuns e possibilita ao professor rever suas práticas
à luz dos novos referenciais pedagógicos da inclusão.
Apresentação
O que transparece na sua
apresentação são as possibilidades de os alunos com surdez aprenderem nas
turmas comuns do ensino regular.
(...) nos faz conhecer o que se
propõe para quebrar barreiras linguísticas e pedagógicas que interferem na
inclusão escolar dos alunos com surdez.
Capítulo 1
Estudar
a educação escolar das pessoas com surdez nos reporta não só a questões
referentes aos seus limites e possibilidades, como também aos preconceitos
existentes nas atitudes da sociedade para com elas.1
As pessoas com surdez enfrentam
inúmeros entraves para participar da educação escolar, decorrentes da perda da
audição e da forma como se
estruturam as propostas educacionais das escolas.
(...)Poker
(2001) afirma que as trocas simbólicas provocam a capacidade representativa
desses alunos, favorecendo o desenvolvimento do pensamento e do conhecimento,
em ambientes heterogêneos de aprendizagem.
(...)
como refere Pierucci (1999), que em nome da diferença, pode-se também segregar.
(...)
Conforme Dorziat (1998), o aperfeiçoamento da escola comum em favor de
todos os alunos é primordial. Esta autora observa
que os professores precisam conhecer e usar a Língua de Sinais, entretanto,
deve-se considerar que a simples adoção dessa língua não é suficiente para
escolarizar o aluno com surdez.
(...)Mais
do que a utilização de uma língua, os alunos com surdez precisam de ambientes
educacionais estimuladores, que desafiem o pensamento, explorem suas
capacidades, em todos os sentidos.
[...] deficiência da trocas
simbólicas, ou seja, o meio escolar não expõe esses alunos a solicitações
capazes de exigir deles coordenações mentais cada vez mais elaboradas, que
favorecerão o mecanismo da abstração reflexionante e consequentemente, os
avanços cognitivos (POKER, 2001: 300).
Ao
optar-se em oferecer uma educação bilíngue, a escola está assumindo uma
política lingüística em que duas línguas passarão a coexistir no espaço
escolar. (...) As línguas podem estar permeando as atividades escolares ou
serem objetos de estudo em horários específicos dependendo da proposta da
escola. (MEC/SEESP, 2006)
(...)é preciso ultrapassar a visão que
reduz os problemas de escolarização das pessoas com surdez ao uso desta ou
daquela língua, mas sim de ampliá-la para os campos sócio políticos.
Capítulo 2
(...)
Existem três tendências educacionais: a oralista, a comunicação total e a
abordagem por meio do bilinguismo.
As
escolas comuns ou especiais, pautadas no oralismo, visam à capacitação
da pessoa com surdez para que possa utilizar a língua da comunidade ouvinte na
modalidade oral, como única possibilidade linguística, de modo que seja
possível o uso da voz e da leitura labial, tanto na vida social, como na
escola. (...) O oralismo, (...) não aceita o uso da Língua de Sinais,
discrimina a cultura surda e nega a diferença entre surdos e ouvintes.
Já
a comunicação total considera as características da pessoa com surdez
utilizando todo e qualquer recurso possível para a comunicação, a fim de
potencializar as interações sociais, considerando as áreas cognitivas, linguísticas
e afetivas dos alunos.
A linguagem
gestual visual, os textos orais, os textos escritos e as interações sociais que
caracterizam a comunicação total parecem não possibilitar um desenvolvimento
satisfatório e esses alunos continuam segregados, permanecendo agrupados pela
deficiência, marginalizados, excluídos do contexto maior da sociedade. Esta
proposta, segundo Sá (1999), não dá o devido valor a Língua de Sinais,
portanto, pode-se dizer que é uma outra feição do oralismo.
Por
outro lado, a abordagem educacional por meio do bilinguismo visa
capacitar a pessoa com surdez para a utilização de duas línguas no cotidiano
escolar e na vida social, quais sejam: a Língua de Sinais e a língua da
comunidade ouvinte.
(...)
existem poucas publicações científicas sobre o assunto, há falta de professores
bilíngues, os currículos são inadequados e os ambientes bilíngues, quase
inexistentes.
Também,
a escola especial é segregadora, pois os alunos isolam-se cada vez mais, ao
serem excluídos do convívio natural dos ouvintes. Há entraves nas relações
sociais, afetivas e de comunicação, fortalecendo cada vez mais os preconceitos.
É preciso fazer a leitura desse
movimento político cultural e educacional, procurando esclarecer os equívocos
existentes, visando aponta soluções para os seus principais desafios.
Grande parte dos pesquisadores e
estudiosos da cultura surda têm se apropriado da concepção de diferença
cultural, defendendo uma cultura surda e uma cultura ouvinte o que fortalece a
dicotomia surdo/ouvinte (Bueno, 1999).
(...) o uso da Língua de Sinais nas
escolas comuns e especiais, por si só, resolveria o problema da educação
escolar das pessoas com surdez?
As práticas pedagógicas constituem o
maior problema na escolarização das pessoas com surdez.
Capítulo 3
O planejamento do Atendimento
Educacional Especializado é elaborado e desenvolvido conjuntamente pelos
professores que ministram aulas em Libras, professor de classe comum e
professor de Língua Portuguesa para pessoas com surdez. O planejamento coletivo
inicia-se com a definição do conteúdo curricular. (...) Em seguida, os
professores elaboram o plano de ensino.
Os alunos com surdez são observados
por todos os profissionais que direta ou indiretamente trabalham com eles.
Focaliza-se a observação nos seguintes aspectos: sociabilidade, cognição,
linguagem (oral, escrita, visoespacial), afetividade, motricidade, aptidões,
interesses, habilidades e talentos. Registram-se as observações iniciais em
relatórios, contendo todos os dados colhidos são longo do processo e demais
avaliações relativas ao desenvolvimento do desempenho de cada um.
O atendimento ocorre diariamente, em
horário contrário ao das aulas, na sala de aula comum.
O planejamento do Atendimento
Educacional Especializado em Libras é feito pelo professor especializado,
juntamente com os professores de turma comum e os professores de Língua
Portuguesa, pois o conteúdo deste trabalho é semelhante ao desenvolvido na sala
de aula comum.
Nesse atendimento há explicações das
ideias essenciais dos conteúdos estudados em sala de aula comum. Os professores
utilizam imagens visuais e quando o conceito é muito abstrato recorrem a outros
recursos, como o teatro, por exemplo.
Os professores neste atendimento
registram o desenvolvimento que cada aluno apresenta.
(...) O atendimento inicia com o
diagnóstico do aluno e ocorre diariamente, em horário contrário ao das aulas,
na sala de aula comum. Este trabalhado é realizado pelo professor e/ou
instrutor de Libras (preferencialmente surdo), de acordo com o estágio de
desenvolvimento da Língua de Sinais em que o aluno se encontra.
(...) Eles procuram os sinais em
Libras, investigando em livros e dicionários especializados, internet ou mesmo
entrevistando pessoas adultas com surdez, considerando o seguinte:
• Caso não existam
sinais para designar determinados termos científicos, os professores de Libras
analisam os termos científicos do contexto em estudo, procurando entendê-los, a
partir das explicações dos demais professores de áreas específicas (Biologia, História,
Geografia e dentre outros);
• Avaliam a criação
dos termos científicos em Libras. Os termos científicos em sinais são registrados,
para serem utilizados nas aulas em Libras.
A organização didática desse espaço de
ensino implica o uso de muitas imagens visuais e de todo tipo de referências
que possam colaborar para o aprendizado da Língua de Sinais.
(Caderno de registro de Língua de Sinais) Os alunos recorrem sempre
a esse caderno, como se fosse um
dicionário particular. O caderno expressa sua compreensão sobre os termos
representados em Libras.
Em resumo, questões importantes
sobre o Atendimento Educacional Especializado em Libras e para o ensino de
Libras:
• O Atendimento
Educacional Especializado com o uso de Libras ensina e enriquece os conteúdos
curriculares promovendo a aprendizagem dos alunos com surdez na turma comum.
• O ambiente
educacional bilíngue é importante e indispensável, já que respeita a estrutura
da Libras e da Língua Portuguesa.
• Este atendimento
exige uma organização metodológica e didática e especializada.
• O professor que
ministra aulas em Libras deve ser qualificado para realizar o atendimento das
exigências básicas do ensino por meio da Libras e também, para não praticar o
bimodalismo, ou seja, misturar a Libras e a Língua Portuguesa que são duas
línguas de estruturas diferentes.
• O professor com
surdez, para o ensino de Libras oferece aos alunos com surdez melhores
possibilidades do que o professor ouvinte porque o contato com crianças e
jovens com surdez com adultos com surdez favorece a aquisição dessa língua.
• A qualidade dos
recursos visuais é primordial para facilitar a compreensão do conteúdo
curricular em Libras.
• A organização do
ambiente de aprendizagem e as explicações do professor em Libras propiciam uma
compreensão das ideias complexas, contidas nos conhecimentos curriculares.
• O Atendimento
Educacional Especializado em Libras oferece ao aluno com surdez segurança e
motivação para aprender, sendo, portanto, de extrema importância para a
inclusão do aluno na classe comum.
O Atendimento Educacional
Especializado para o ensino da Língua Portuguesa acontece na sala de recursos
multifuncionais e em horário diferente ao da sala comum. O ensino é
desenvolvido por um professor, preferencialmente, formado em Língua Portuguesa
e que conheça os pressupostos linguísticos teóricos que norteiam o trabalho, e
que, sobretudo acredite nesta proposta estando disposto a realizar as mudanças
para o ensino do português aos alunos com surdez.
(...) a sala de recursos para o Atendimento
Educacional Especializado em Língua Portuguesa deverá ser organizada
didaticamente, respeitando os seguintes princípios:
• Riqueza de
materiais e recursos visuais (imagéticos) para possibilitar a abstração dos
significados de elementos mórficos da Língua Portuguesa.
• Amplo acervo
textual em Língua Portuguesa, capaz de oferecer ao aluno a pluralidade dos
discursos, para que os mesmos possam ter oportunidade de interação com os mais
variados tipos de situação de enunciação.
• Dinamismo e
criatividade na elaboração de exercícios, os quais devem ser trabalhados em
contextos de usos diferentes.
O Atendimento Educacional
Especializado para ensino da Língua Portuguesa é preparado em conjunto com os
professores de Libras e o da sala comum. A equipe analisa o desenvolvimento dos
alunos com surdez, em relação ao aprendizado e domínio da Língua Portuguesa.
Dessa forma, no Atendimento
Educacional Especializado, o professor trabalha os sentidos das palavras de
forma contextualizada, respeitando e explorando a estrutura gramatical da
Língua Portuguesa. Esse processo inicia-se na educação infantil,
intensificando-se na alfabetização e prossegue até o ensino superior.
Para esclarecerem dúvidas e
polêmicas sobre o estudo dos contextos e dos conteúdos curriculares, o
professor de Língua Portuguesa e os professores de turma comum organizam um
caderno de estudo, no qual exemplificam conceito por conceito, procurando
oferecer esclarecimentos pontuais para o aprendizado dos alunos.
O Atendimento Educacional Especializado
deve ser organizado para atender também alunos que optaram pela aprendizagem da
Língua Portuguesa na modalidade oral. Nesse caso, o professor de português oferece
aos alunos as pistas fonéticas para a fala e a leitura labial.
Com o objetivo de alcançar
estruturas gramaticalmente corretas, insere-se no trabalho regras gramaticais
propriamente ditas, que os alunos ouvintes, facilmente compreendem, por terem
como canal comunicativo à língua oral. No caso dos alunos com surdez, faz-se
necessário criar o canal que os leva a essas compreensões. Esta situação é
observada na análise morfológica – flexão de gênero, número e grau de
substantivos e adjetivos, bem como nas flexões verbais de modo, tempo e pessoa,
ao estabelecerem nas frases e textos, a concordância verbal e nominal.
No Atendimento Educacional
Especializado para o ensino da Língua Portuguesa, o canal de comunicação
específico é a Língua Portuguesa, ou seja, leitura e escrita de palavras,
frases e textos, o uso de imagens e até mesmo o teatro, para a representação de
conceitos muito abstratos. Vários recursos visuais são usados para aquisição da
Língua Portuguesa.
Capítulo
4
Respaldados pelos novos paradigmas inclusivos,
as pessoas com surdez têm conquistado atualmente direitos fundamentais que promovem
a sua inclusão social.
O reconhecimento da Língua
Brasileira de Sinais – Libras, em abril de 2002, e sua recente regulamentação,
conforme o decreto nª 5.626, de 22 de dezembro de 2005, legitimam a atuação e a formação profissional de tradutores e
intérpretes de Libras e Língua Portuguesa. Garante ainda a obrigatoriedade do
ensino de Libras na educação básica e no ensino superior - cursos de
licenciatura e de Fonoaudiologia e regulamenta a formação de professores da
Libras.
O que é um tradutor e
intérprete de Libras e Língua Portuguesa?
É a pessoa que, sendo fluente em
Língua Brasileira de Sinais e em Língua Portuguesa, tem a capacidade de verter
em tempo real (interpretação simultânea) ou, com um pequeno espaço de tempo (interpretação
consecutiva), da Libras para o Português ou deste para a Libras. A tradução
envolve a modalidade escrita de pelo menos uma das línguas envolvidas no processo.
Postura ética
A função de traduzir/interpretar é
singular, dado que a atuação desse profissional leva-o a interagir com outros
sujeitos, a manter relações interpessoais e profissionais, que envolvem pessoas
com surdez e ouvintes, sem que esteja efetivamente implicado nelas, pois sua
função é unicamente a de mediador da comunicação.
O tradutor e intérprete, ao mediar a
comunicação entre usuários e não usuários da Libras, deve observar preceitos
éticos no desempenho de suas funções, entendendo que não poderá interferir na relação
estabelecida entre a pessoa com surdez e a outra parte, a menos que seja
solicitado.
Segundo o código de ética da atuação
do profissional tradutor e intérprete - que é parte integrante do Regimento
Interno do Departamento Nacional de Intérpretes da FENEIS/Federação Nacional de
Educação e Integração dos Surdos – cabe a esse profissional agir com sigilo,
discrição, distância e fidelidade à mensagem interpretada, à intenção e ao espírito
do locutor da mensagem. (MEC/SEESP, 2001). Esta postura profissional exige
disciplina e uma clara consciência de seu papel. Assim sendo, o intérprete deve
ter uma estabilidade emocional muito grande e todo aquele que almeja assumir
essa função precisa ter consciência dessas condições e buscar formas de
desenvolvê-la.
É absolutamente necessário entender
que o tradutor e intérprete é apenas um mediador da comunicação e não um
facilitador da aprendizagem e que esses papéis são absolutamente diferentes e precisam
ser devidamente distinguidos e respeitados nas escolas de nível básico e
superior.
O professor que é fluente em Libras
é a pessoa mais habilitada para transmitir seus conhecimentos aos alunos
usuários da Língua de Sinais. Uma vez que o professor tenha fluência nessa língua
e que o domínio do conhecimento a ser trabalhado é exclusivo desse professor,
não existe a barreira da comunicação e, assim sendo, o intérprete será
desnecessário.
DAMÁSIO. Mirlene F. M. Atendimento
Educacional Especializado – Pessoa Com Surdez. SEESP∕SEED∕MEC.
Brasília∕DF-2007.
Nenhum comentário:
Postar um comentário