terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Introdução a Geomorfologia


O RELEVO NO QUADRO AMBIENTAL
                Nada existe de tão concreto na natureza como o conjunto heterogêneo das formas que compõem o relevo. (...) Desse modo, o relevo é concreto quanto às formas, mas abstrato enquanto matéria.
                O relevo, como um dos componentes do meio natural, apresenta uma diversidade enorme de tipos de formas. Essas formas, por mais que possam parecer estáticas e iguais, na realidade são dinâmicas e se manifestam ao longo do tempo e do espaço de modo diferenciado, em função das combinações e interferências múltiplas dos demais componentes do estrato geográfico. (...) Essas relações se traduzem pela troca de energia e matéria entre os componentes.
                (...) Sobre as formas – elas não ocorrem por acaso, mas porque uma série de fatores naturais possibilitaram seu aparecimento e garantem sua funcionalidade e evolução contínua.
                O relevo (...) constitui-se eminentemente de formas com arranjo geométrico as quais se mantém em função do substrato rochoso que as sustentam e dos processos externos e internos que as geram.
(O relevo é concreto na forma que toma, abstrato porque não se pode pegar uma cadeia de montanhas por exemplo; heterogêneo por não se limitar à uma única forma; concretiza-se através da geometria das formas que apresenta; não se organiza ao acaso e sim devido à influencia dos agente endógenos e exógenos sendo dinâmico e não estático.)
PARTE IMPORTANTE
                “Estrato Geográfico” (segundo Grigoriev – 1968) é a faixa, o ambiente onde que permite a existência do homem como ente biológico e consequentemente como ser social. Esta camada o estrato é relativamente pouco espessa, pois se estende da baixa atmosfera até a parte externa e rígida da terra, que corresponde à crosta terrestre ou litosfera. O estrato geográfico configura-se por um conjunto de componentes do ambiente natural em seus três estados físicos (sólido, liquido e gasoso). (...) Neste ambiente de intensa troca de energia e matéria é que foi possível surgir a vida animal e vegetal e a evolução do homem como ser animal e social.
(Ou seja o estrato geográfico denomina a extensão da crosta e baixa atmosfera onde se desenvolve e se possibilita a vida por meio das trocas de energia e matéria que acontecem, é composto por elementos naturais em estado gasoso, solido e liquido.)
DIFERENCIAÇÃO
                O estrato geográfico é extremamente diferenciado, sendo tal diferenciação tanto de ordem natural como antrópica (...)ambas não são estáticas, duas fontes energéticas de ordem oposta são responsáveis pelas diferenças fisionômicas e na dinâmica, sendo uma externa, sendo comandada pela energia solar e outra interna, determinada pelo calor e pressão do núcleo e manto terrestre. Enquanto uma atua de dentro para fora, criando fisionomias de caráter estrutural, a outra age de fora para dentro.
Origem das energias endógenas: Materiais radioativos concentrados no núcleo da terra.
                (...) As significativas modificações tanto no espaço como no tempo, todas as componentes do estrato geográfico se alteram, ora com mais vigor, ora com maior serenidade.
                Em resumo, a atuação das forças endógenas e exógenas juntas e em oposição, determinam toda a existência e toda a dinâmica do meio biótico e abiótico da superfície terrestre.
                Como a energia solar não atua igualitariamente na superfície terrestre, e como a crosta não se constitui em um único tipo de litologia e de arranjo estrutural, alem de que as forças internas também apresentam atuações diferenciadas sob a crosta, a gama de fisionomias ou de ambientes naturais é muito numerosa, acabando por determinar um numero infinito de Unidades de Paisagens Naturais.
(O relevo recebe influencia de duas fontes energéticas: endógenas, os mineiras de diferentes compostos responsáveis pelos movimentos no interior da terra, causando a pressão modeladora; exógenas, o sol como principal fonte de energia atuando nos mais diversos fatores externos de modelação da fisionomia do relevo. Essas mudanças na fisionomia do relevo são dinâmicas, ocorrem alterando tempo e espaço ao longo dos anos.)
A PAISAGEM COMO UM TODO
                O entendimento do relevo passa portanto pela compreensão de uma coisa maior que é a paisagem como um todo. Não se pode entender a gênese e a dinâmica das formas de relevo sem se entender os mecanismos motores de sua geração, sem que se perceba diferentes interferências dos demais componentes em uma determinada Unidade de Paisagem. Existe relação estreita entre tipos e formas do relevo com os solos e estes, com a litologia e o tipo climático atuante.
                A complexidade dos ambientes naturais, bem como dos alterados pelo homem, é de tal ordem que não se pode estabelecer seus limites territoriais com precisão. Isso porque não se tem modificações bruscas de uma condição ambiental para outra.
                Nesse panorama enormemente diversificado de ambientes naturais, o homem, como ser social, interfere, criando novas situações ao construir e reordenar os espaços físicos. (...) Todas essas modificações inseridas pelo homem no ambiente natural alteram o equilíbrio de uma natureza que não é estática, mas que apresenta quase sempre um dinamismo harmonioso em evolução estável e contínua, quando não afetada pelos homens.

GEMORFOLOGIA E DIAGNÓSTICOS AMBIENTAIS
                (...) qualquer interferência na natureza, pelo homem, necessita de estudos que levem ao diagnóstico, ou seja, a um conhecimento do quadro ambiental onde se vai atuar.
                (...) é imperativo ao homem como ser social, expandir-se, tanto demograficamente como técnica e economicamente, torna-se evidente que apareçam, nesse processo, os efeitos contrários.
IMPACTO
                (...) é preciso considerar, que no atual estágio tecnológico científico e econômico a que chegou o homem do século XX é impossível desconsiderar que a cada dia a expansão do aproveitamento dos recursos naturais esta sendo necessária à humanidade. (...) Há que considerar ainda mais que muitas alterações feitas pelo homem no ambiente, tidas como impactos positivos, depois de algum tempo revelam-se como surpresas desagradáveis.
                É significativo considerar que a natureza, por sua vez, também tem seus mecanismos de defesa ou pelo menos de auto-regeneração.
PREVENIR
                (...) na natureza certamente é bem menor o custo da prevenção de acidentes ecológicos e da degradação generalizada do ambiente, do que corrigir e recuperar o quadro ambiental deteriorado; mesmo porque determinados recursos naturais, uma vez mal utilizados ou deteriorados tornam-se irrecuperáveis. Com a postura de que é preciso prevenir muito mais do que corrigir, torna-se imperativa a elaboração dos diagnósticos ambientais, para que se possa elaborar prognósticos e com isso estabelecer diretrizes de uso dos recursos naturais do modo mais racional possível, minimizando a deterioração da qualidade ambiental.
                Nesse contexto, a Geografia como um todo, e a Geomorfologia especificamente, são de virtual importância no trabalho de inventariar e analisar o quadro ambiental, que é antes de mais nada um espaço, humanizado ou não, eminentemente geográfico.
                (...) É praticamente inviável elaborar-se estudos ambientais sem que se tenha estruturado uma equipe de profissionais multidisciplinares que trabalhem de forma integrada, com objetivos claramente definidos.
                (...) sem desprezar o fato de que o relevo também exerce influência sobre as outras componentes.
OBJETIVO MÁXIMO
                A peculiaridade da Geomorfologia ... assume caráter de disciplina privilegiada nos estudos ambientais, pelo fato de que para seu adequado entendimento e análise, exige do pesquisador conhecimento pluralista.
                Não se pode entender a dinâmica e a gênese das formas do relevo, sem que se conheça muito bem os fatores bioclimáticos, pedológicos, geológicos e mesmo antrópicos que interferem no dinamismo e portanto em sua evolução.
                (...) interpretar o relevo não é simplesmente saber identificar padrões de formas ou tipos de vertentes e vales, não é simplesmente saber descrever o comportamento geométrico das formas, mas saber identificá-las e correlacioná-las com os processos atuais e pretéritos, responsáveis por tal modelados, e com isso estabelecer não só a gênese mas também a sua cronologia, ainda que relativa.
                O lado frágil da Geomorfologia deve-se principalmente à dificuldade de demonstrar sua existência e mais que isso, sua aplicabilidade. Pelo seu caráter de certo modo abstrato quanto à matéria, dificulta até mesmo aos especialistas de áreas afins entenderem do que se trata.
                As ciências da natureza e sobretudo, as chamadas ciências da terra ou geociências, não são independentes e também não tem proprietários.
CIÊNCIA DA TERRA
                É incontestável, entretanto, que a geomorfologia como disciplina que estuda as formas do relevo quanto à sua geometria, gênese e idade, incluir-se no contexto das ciências da terra. Como é impossível entender-se o funcionamento ou a dinâmica ambiental sem que se considere o todo que compõe o Estrato Geográfico, o relevo não pode ser deixado de lado nos estudos ambientais, tanto quanto os demais componentes. Isso é notório pois é no relevo que as forças de interação mais se manifestam.

EVOLUÇÃO DAS CONCEPÇÕES RELATIVAS AO RELEVO
                O avanço dos conhecimentos no âmbito das ciências da terra, deu-se principalmente a partir de meados do século XIX. Entretanto, as raízes desse impulso são encontradas desde o período renascentista, sobretudo nas observações de campo efetuadas pelo engenheiro e artista Leonardo da Vinci, no final do século VX e início do século XVI.
                Por muitos séculos o progresso das ciências naturais foi inibido pela crença de que os fatos observados na superfície terrestre eram produtos de acontecimentos excepcionais de caráter catastrófico. (...) na segunda metade do século XVII surgiu o Princípio do Atualismo, onde a máxima era “O Presente é a Chave do Passado”. Esse princípio estabeleceu as bases da pesquisa em geologia, bem como em geomorfologia.
SURREL
                 Surrel, em 1841 estabeleceu o princípio da Tensão Regressiva e o Conceito de Perfil de Equilíbrio.
GILBERT
                No final do século XIX a morfologia fluvial sofreu um novo avanço com os estudos de Gilbert (1877)... quando se definiu mais três leis da geomorfologia: das Declividades; da Estrutura; e dos Divisores.
DAVIS
                Nos EUA surgiu o modelo teórico de Willian Morris Davis, estabelecendo uma direção para a interpretação do relevo.
                O modelo teórico proposto por Davis apresenta uma concepção finalista, onde todo relevo tem começo, meio e fim, podendo, entretanto, recomeçar com um processo de rejuvenescimento.
                Percebe-se que o modelo teórico, apesar da concepção finalista, apoia-se em um tripé definido pela estrutura, processo e tempo.
ESTUDOS ALEMÃES
                Os estudos alemães se caracterizavam por trabalhos empíricos marcados por detalhadas descrições das coisas da natureza, apoiadas em minuciosas observações efetuadas em suas expedições em campo. (...) Alexandre Von Humboldt... dera grande contribuição ao conhecimento geográfico.
                A postura naturalista dos alemães imprimiu uma direção para a observação e analise dos fatos, onde o relevo se relaciona com a litologia, os solos, a hidrologia e o clima. (...) As primeiras correlações entre as zonas climáticas do globo e as formas de relevo foram estabelecidas em 1912 por W. Penck.
                (...) os tipos climáticos passaram a ser objeto de preocupação no entendimento da dinâmica e gênese do relevo, definindo-se o modelado da superfície da terra extremamente atrelado às grandes zonas climáticas do globo.
NO BRASIL
                Ab’Saber na década de 1960, estabeleceu uma proposta de entendimento do relevo brasileiro em Domínios Morfoclimáticos, uma interpretação calcada na influência da zonalidade climática. O país foi dividido em seis domínios morfoclimáticos.
TEORIA DA PEDIPLANAÇÃO
                Teoria de Lester King onde a erosão, ou modelação do relevo tendo como agente principal o vento, atuando em regiões de clima árido ou semi-árido.
Contesta a teoria de Davis, afirmando que a formação e estudo do relevo não constitui um ciclo.
VARIAS TEORIAS
                (...) A proposta por Hack (1960) denominada Teoria do Equilíbrio Dinâmico, tem sido aplicada nas pesquisas geomorfológicas de detalhe, principalmente quando se trata de estudos para avaliar processos atuantes nas condições ambientais atuais. Essa teoria, que tem como princípio básico o pressuposto de que o ambiente natural encontra-se em estado de equilíbrio, por não ser estático, graças ao mecanismo de funcionamento dos diversos componentes do sistema, é um princípio que se inspira na Teoria Geral dos Sistemas, sendo portanto entendida pela funcionalidade na entrada de fluxo de energia no sistema que produz determinado trabalho.
                (...) Em alguns países desenvolve-se a pesquisa geomorfológica apoiada na cartografia de relevo. (...) fizeram crescer a cartografia geomorfológica. Estabeleceram os conceitos de morfoestrutura e morfoescultura, alem de proporem uma classificação ou taxonomia para o relevo terrestre. (classificação)
CONTRIBUIÇÃO SOVIÉTICA
                Com a contribuição dos soviéticos, seguidores de `Penck, resolveu-se um problema de cartografia geomorfológica para escalas médias e pequenas. Havia dificuldades ao se representar as unidades geomorfológicas, pois valorizava-se o escultural, perdendo-se informação do estrutural ou então dava-se o contrário, ficando a carta geomorfológica mais parecida com uma carta geológica. Com o estabelecimento dos conceitos de morfoestrutura e morfoescultura definiu-se com clareza a representação cartográfica que valoriza o estrutural sem desprezar o escultural e vice-versa.
                (No Brasil) Verifica-se portanto, que há um emaranhado de linhas de trabalho que em sua maior parte não apresentam continuidade por não fazer escola, e não haver um número suficiente de pesquisadores que possam levar isso avante.
*Fragmentos de Cunha

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