O DESAFIO DA DIVERSIDADE
Quanto mais complexas se tornam as relações (...) mais o campo da
pedagogia é desafiado a compreender e apresentar alternativas para a formação
dos seus profissionais. (...) Porém, ainda faltam estudos que articulem a
formação dos professores e outras temáticas, entre elas, a diversidade
étnico-cultural.
O que assistimos hoje, é ao reconhecimento, dentro de alguns
segmentos do campo educacional, da grande lacuna que a não inclusão da
diversidade cultural na formação dos professores e no currículo escolar tem
acarretado à educação brasileira, principalmente, à escola pública.
Formação de
Professores: Um Processo Complexo
A formação de professores deve proporcionar situações que
possibilitem a reflexão e a tomada de consciência das limitações sociais,
culturais e ideológicas da própria profissão docente (Carlos Macedo Garcia,
1995). (...) Diferentes imagens se formam sobre o professor, destacando-o como
pessoa, colega, companheiro, implementador do currículo, sujeito que toma as
decisões, entre outros. (...) A formação de um professor é um processo contínuo
desde a formação inicial até o pleno exercício da profissão. Desta forma,
tem-se de manter uma conexão entre a formação recebida na instituição e a
formação que se dá com o exercício da profissão. (...) Manter essa conexão
significa respeitar os saberes de que os professores são portadores.
Antonio Névoa 1995) diz que quanto ao preparo do professor para atuar
diante de diversidade cultural e social, mais do que a aquisição de técnicas e
conhecimentos, a formação de professores é o momento crucial da socialização e
da configuração profissional.
É visada a superação da visão estática, conteúdista, limitada ao
domínio de métodos e técnicas de ensino ainda presentes na formulação de cursos,
assim como desmitificar a importância majoritária da formação inicial.
Tende-se a privilegiar durante o processo de formação, a relação
entre os professores, os saberes, os valores, a cultura e as histórias de vida.
É a partir daí que a relação entre professores em formação e a diversidade
étnico-cultural vira um desafio para o campo pedagógico a ponto de ser então
assimilada através de uma disciplina.
Entre as perspectivas que se tem aberto para o estudo da formação de
novos professores, tomam destaque aquelas que focalizam as histórias de vida, o
desenvolvimento profissional, a formação de professores reflexivos e de novas
mentalidades.
O desafio para o campo da didática e da formação dos professores no
que se refere à diversidade é pensá-la na sua dinâmica e articulação com os processos educativos
escolares e não transformá-la em metodologias e técnicas de ensino para os
ditos “diferentes”. Isso significa tomar a diferença como um constituinte dos
processos educativos, uma vez que tais processos são construídos por meio de
relações socioculturais entre seres humanos e sujeitos sociais. Assim, podemos
concluir que os profissionais que atuam na escola e demais espaços educativos
sempre trabalharam e sempre trabalharão com as semelhanças e com as diferenças,
as identidades e as alteridades, o local e o global. Por isso, mais do que
criar novos métodos e técnicas para se trabalhar com as diferenças é preciso,
antes, que os educadores reconheçam a diferença enquanto tal, compreendam-na à
luz da história e das relações sociais, culturais e políticas da sociedade
brasileira, respeitem-na e proponham estratégias e políticas de ações
afirmativas que se coloquem radicalmente contra toda e qualquer forma de
discriminação.
É repensada a função social e cultural da escola, portanto há a
necessidade de repensar o papel social e cultural do professor, redefinir com
maior seriedade a sua formação.
Diversidade
Étnico-Cultural: Uma necessidade e um Desafio
Faz-se necessário alertar para que não reduzamos as nossas análises
educacionais somente à educação escolar, desconsiderando os processos
culturais, sociais e políticos mais amplos, constituintes de toda a experiência
humana.
A educação escolar, entendida como parte constituinte do processe de
humanização, socialização e formação, tem, pois, de estar associada aos
processos culturais, à construção das identidades de gênero, de raça, de idade,
de escolha sexual, entre outros.
A sociedade brasileira é pluriétnica e pluricultural. Alunos,
professores e funcionários de estabelecimentos de ensino são, antes de mais
nada, sujeitos sociais – homens e mulheres, crianças e adolescentes, jovens e
adultos, pertencentes a diferentes grupos étnico-raciais, integrantes de
distintos grupos sociais. São sujeitos com historias de vida, representações,
experiências, identidades, crenças, valores e costumes próprios que impregnam
os ambientes educacionais por onde transitam com suas particularidades e
semelhanças, compondo o contexto da diversidade. Por isso a diferença é mais um
constituinte do nosso processo de humanização.
As secretarias de educação deveriam mapear, conhecer e dialogar com
as escolas ou com os coletivos de professores que já aceitaram o desafio de
construir e implementar propostas voltadas para uma pedagogia da diversidade e
assim construir uma proposta mais coletiva.
O Desafio da
Diversidade
Enquanto um processo que faz parte da nossa humanização, a
diversidade étnico-cultural é uma característica marcante em qualquer
sociedade. Ela está presente nas relações que estabelecemos no mundo do
trabalho, na família, nos espaços de lazer, na escola e demãos locais e
instituições.
A divesidade étnico-cultural nos mostra que os sujeitos sociais,
sendo históricos, são também culturais. Essa constatação indica que é
necessário repensar a nossa escola e os processos de formação docente, rompendo
com as práticas seletivas, fragmentadas, corporativistas, sexistas e racistas
ainda existentes.
A pratica docente, os recentes estudos sobre a formação de
professores, a relação da escola, currículo e cultura vêm nos mostrando que
além de questões de ordem econômica, social, pedagógica e linguística convivem
conflituosamente, no cotidiano escolar, outras questões relacionadas à
estrutura excludente da escola, aos valores da infância e da juventude, à
violência das sociedades modernas, às novas formas de exclusão social, ao
tratamento dado às identidades de idade, gênero e raça.
Experiências étnico-culturais para a formação de professores
∕ organizado por Ilma Lino Gomes e Petronilha Beatriz Gonçalves e Silva. – 2ª ed.
– Belo Horizonte: Autentica, 2006.
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