Este é o resumo de um parecer homologado do MEC para o Conselho Nacional de
Educação sobre as diretrizes para a educação das relações étnico-raciais e para
o ensino de história e cultura afro-brasileira e africana, aprovado em 2004.
Estabelece a obrigatoriedade do ensino de historia e cultura
afro-brasileira e africana na educação básica, assegurar o direito à igualdade
de condições de vida e de cidadania, assim como garantir igual direito às
histórias e culturas que compõem a nação brasileira.
Divulgar a história e cultura negra na educação básica,
conduzindo à relações étnico-raciais positivas.
Destina-se o parecer aos estabelecimentos de ensino e todos
os envolvidos na formulação da educação básica.
Alem da difusão da historia e cultura, através disso, visa a
formação para a cidadania responsável pela construção de uma sociedade justa e
democrática.
Para a elaboração deste parecer, foi feita a consulta com
cidadãos empenhados na construção da sociedade almejada, independente de seu
pertencimento racial.
Questões
introdutórias
O parecer procura oferecer uma resposta à demanda de
políticas de reparação e de reconhecimento e valorização da historia, cultura e
identidade negras.
Propõe a divulgação e produção de conhecimentos, a formação
de atitudes, posturas e valores que eduquem cidadãos orgulhosos de seu
pertencimento étnico-racial com identidade valorizada.
Pretende-se a educação das relações étnico-raciais entre
descendentes de africanos, de europeus, de asiáticos e povos indigenas.
Políticas de
Reparações, de Reconhecimento e Valorização, de Ações Afirmativas
Visa que o Estado e a sociedade tomem medidas para ressarcir
os afrodescendentes dos danos psicológicos, materiais, sociais, políticos e
educacionais sofridos no regime escravista e também nas políticas explícitas de
branqueamento da população. Visa combate ao racismo e toda sorte de
discriminações.
Sem a intervenção do Estado não se romperá o sistema
meritocrático que agrava desigualdades e gera injustiças, ao reger-se por
critérios de exclusão, fundados em preconceitos e manutenção de privilégios
para os sempre privilegiados.
Pretende-se dar ao afrodescendente condições para alcançar
todos os requisitos tendo em vista a conclusão de cada um dos níveis de ensino,
bem como atuar como cidadãos responsáveis e participantes, alem de
desempenharem com qualificação uma profissão.
Lei 10639∕2003 estabelece a obrigatoriedade do ensino de
história e cultura afro-brasileiras e africanas.
Requer-se quebrar o mito de que os negros não atingem os
mesmos patamares seculares que a estrutura social hierárquica cria com
prejuízos para os negros. Para isso, estratégias pedagógicas de valorização da
diversidade.
Reconhecer exige que admitamos a existencia de preconceitos
que desqualificam os negros e salientam estereótipos depreciativos, salientando
sentimentos de superioridade em relação aos negros.
Reconhecer significa compreender seus valores e lutas, ser
sensível ao sofrimento causado por tantas formas de desqualificação: apelidos
depreciativos, brincadeiras piadas de mau gosto sugerindo incapacidade,
ridicularizando seus traços físicos, a textura de seus cabelos, desprezando a
religião de raiz africana.
Pretende-se corrigir desvantagens e marginalização criadas e
mantidas por uma estrutura social excludente e discriminatória. Ações
afirmativas atendem ao determinado pelo Programa Nacional de Direitos Humanos,
bem como a compromissos internacionais assumidos pelo Brasil, com o objetivo de
combate ao racismo e a discriminações.
Converter as demandas da comunidade negra em políticas
publicas para reparação, reconhecimento e valorização da etnia, sua cultura e
origens. Medidas que repudiam, conforme previsto na constituição federal, o
“preconceito de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de
discriminação” e reconhece que todos são portadores de singularidade
irredutível e que a formação escolar tem de estar atenta para o desenvolvimento
de suas personalidades.
Educação das relações
étnico-raciais
As políticas que visam a reparação precisam contar com o
empenho da sociedade, alunos e professores, estabelecimentos de ensino, negros
e não negros para atingir seus objetivos.
O termo raça, frequentemente usado para destacar as
diferenças baseadas nas características físicas, tem sido empregado pelos
movimentos negros com sentido político e de valorização do legado africano.
De acordo com o IBGE, 45% da população brasileira é negra,
mesmo assim, valoriza-se e privilegia-se a cultura e origens branco-europeias.
A educação das relações étnico-raciais impõe aprendizagens
entre brancos e negros, trocas de conhecimentos, quebra de desconfianças,
projeto conjunto para construção de uma sociedade justa, igual, equânime.
Isso não é tarefa única e exclusiva da escola, mas todo esse
preconceito perpassa por ali, é lá então que será divulgada a postura que visa
uma sociedade igualitária e justa.
Estudiosos do assunto assim como participantes de grupos de
Movimentos Negro fazem propostas para que se atinja essa realidade, em projetos
comuns de combate ao racismo. É necessário criar essas novas pedagogias de
combate.
Para isso a primeira preocupação é referente a designar os
negros como negros ou como pretos sem gerar ofensa.
No Brasil, ser negro não se limita a características
físicas, indo alem, é uma escolha política. O termo ‘preto’ é utilizado pelo
IBGE para classificação das cores de pele.
Outra preocupação, equivoco, é pensar que o negro se
discrimina entre si.
Também se pretende trazer a escola (instituição social
responsável pelo direito à educação) para o centro da discussão com os
movimentos negros e os estudiosos.
As pedagogias de combate ao racismo irão acarretar para o
negro a segurança para se orgulharem de sua raiz africana; para os brancos a
identificação das contribuições da cultura negra e seus afins em sua historia e
cotidiano; e para o Estado e a escola, o reconhecimento da divida que possuem
com o segmento negro da sociedade.
História e Cultura
Afro-Brasileira e Africana – Determinações
Caberá aos estabelecimentos de
ensino assim como todos os envolvidos no processo da educação básica o
estabelecimento de conteúdos de ensino, unidades de estudo, projetos e
programas abrangendo os diferentes componentes curriculares
Em outras palavras, aos
estabelecimentos de ensino esta sendo atribuída responsabilidade de acabar com
o modo falso e reduzido de tratar a contribuição dos africanos escravizados e
de seus descendentes para a construção da nação brasileira; de fiscalizar para
que, no seu interior, os alunos negros deixem de sofrer os primeiros e continuados
atos de racismo de que são vitimas. Sem duvida, assumir estas responsabilidades
implica compromisso de todos com a formação de cidadãos atuantes e
democráticos, capazes de compreender as relações sociais e étnico-raciais de
que participam e ajudam a manter e∕ou a reelaborar, capazes de decodificar
palavras, fatos e situações a partir de diferentes perspectivas, de
desempenhar-se em áreas de competências que lhes permitam continuar e
aprofundar estudos em diferentes níveis de formação.
O Brasil precisa ser o país onde
o cidadão não tenha que negar a sua raça e acatar costumes e crenças que lhes
são alheios.
Consciência Política e Histórica da Diversidade
A sociedade é formada por pessoas
que pertencem a grupos distintos que possuem cultura e historia próprias,
igualmente valiosas e que em conjunto constroem, na nação brasileira, sua
historia. Deve-se portanto eliminar a ideologia do branqueamento e o mito da
democracia racial. Para tanto, a formulação de concepções não baseadas no
preconceito e a construção de ações respeitosas.
Fortalecimento de Identidades e Direitos
Este principio deve reafirmar
identidades negadas ou distorcidas; romper com imagens negativas forjadas por
diferentes meios de comunicação.
Ações Educativas de Combate ao Racismo e a Discriminações
Este princípio prevê a conexão
das estratégias de ensino com as experiências de vida de alunos e professores
no que se refere às suas relações étnico-raciais; analise dos materiais
didáticos e pedagógicos por representantes da escola e dos movimentos negros
para as devidas correções.
Estes principio e seus
desdobramentos mostram exigências de mudança de mentalidade, de maneiras de
pensar e agir dos indivíduos em particular, assim como das instituições e de
suas tradições culturais.
O ensino de História e Cultura
Afro-Brasileira e Africana, evitando-se distorções, envolverá passado, presente
e futuro. Isso se fará em diferentes meios, em atividades curriculares ou não,
mas dentro do cotidiano das escolas, nos diferentes níveis de modalidade de
ensino, como conteúdo de disciplinas sem prejuízo das demais. Será dado
destaque a acontecimentos e realizações próprios de cada região e localidade.
Datas significativas também deverão ser observadas tais como 13 de maio (Dia
Internacional de Denúncia Contra o Racismo), 20 de novembro (Dia Nacional da
Consciência Negra) e 21 de março (Dia Internacional de Luta pela Eliminação da
Discriminação Racial). E História da África, deverá ser feita uma abordagem
positiva, não só de denúncia da miséria e discriminações que atingem o
continente.
Para tanto, as escolas deverão
providenciar: registro da historia não contada dos negros brasileiros; apoio
aos professores na elaboração de projetos e aulas; articulação entre escolas,
centros de pesquisa, núcleos de estudos afro-brasileiros, etc.; introduzir o
tema étnico-racial e discriminatório em cursos de formação de professores;
inclusão de bibliografia relativa à historia e cultura afro-brasileira e
africana; responsabilizar órgãos do colegiado sobre analise de situações de
racismo e discriminação para definir as melhores soluções que levem ao respeito
mútuo; organizar centros de documentação da cultura negra, sejam bibliotecas,
museus, expedições, etc.; incentivar pesquisas que abordem o tema
afro-brasileiro e africano; ofertar a educação fundamental em áreas
remanescentes de quilombos; disponibilização deste parecer para todos os
professores, sem exceção.
Obrigatoriedade do Ensino de História e Cultura Afro-Brasileiras,
Educação das Relações Étnico-Raciais e os Conselhos de Educação
Essas diretrizes visam a
desencadear ações uniformes, todavia, objetivam oferecer referencias e
critérios para que se implantem ações, as avaliem e reformulem no que e quando
necessário.
Caberá aos Conselhos de Educação
dos Estados e dos Municípios acatar estas diretrizes assim como definir medidas
urgentes para a formação de professores e incentivar o desenvolvimento de
pesquisas, bem como o envolvimento comunitário. O proposto neste parecer deverá
ser adequado à realidade de cada sistema de ensino.
Voto da Comissão
Diante da exclusão dos negros nos
bancos escolares, notadamente em nossos dias no ensino superior; diante da necessidade
do sentimento de respeito referentes às suas peculiaridades; diante da
ignorância que os grupos sócias tem uns dos outros; diante da violência
explicita ou simbólica gerada pelo racismo e pelas discriminações; diante das
humilhações e ultrajes sofridos pelos estudantes negros; diante dos compromissos internacionais assumidos
pelo Brasil em convenções... O CONSELHO APROVA POR UNANIMIDADE O VOTO DA
RELATORA.
Diário Oficial da União de
19∕05∕2004
Nenhum comentário:
Postar um comentário