ARQUIPÉLAGOS MERCANTIS: Como as distintas regiões do território
consolidaram seu processo de integração regional.
O objetivo deste texto é descrever o
processo de incorporação das regiões brasileira na economia-mundo. O ponto
inicial é no período de produção colonial onde foram implantados povoamentos
mercantis em locais privilegiados da costa brasileira, sob controle da
Metrópole. Esses povoamentos não são cidades e sim “rural-urbano”.
O fundamento escravista da produção
mercantil está na raiz das delimitações da base técnica da economia escravista
do século XIX. Todos os avanços significativos nas forças produtivas foram
canalizados para os sistemas de transporte e armazenamento, o que permitia
ampliar a área produtora e retirava escravos das tarefas de transporte para as
plantações.
O surgimento das cidades em solo
brasileiro só aconteceu quando os interesses comerciais domésticos e o tráfico
de escravos e contrabando foram evoluindo de forma mais expressiva e
gradualmente adquiriram autonomia. As cidades mercantis estabeleceram relação
direta com a Bacia do Prata e Grã-Bretanha e a burguesia em ascensão contribui
para a quebra do Pacto Colonial e para a formação dos centros de produção
distribuídos no território como “ilhas”- daí a formação do arquipélago
mercantil.
Os arquipélagos mercantis eram
regiões que produziam independente de um sistema de redes, ou de estarem
interligadas entre si. Era uma economia central, cuja produção quase sempre
voltada ao mercado mundial, a exportação se fazia com base numa combinação de
fatores produtivos que definiam as atividades de cada uma dessas regiões que se
dividiam em cinco como veremos a seguir:
A região que agregava Nordeste e
Bahia viu o declínio da produção açucareira ofuscada pela produção do fumo que
demandava pouco ou nada de investimento para fertilização do solo. Outra
atividade da região entrou em declínio também, a produção de algodão que
alimentava o mercado americano que, devido a uma guerra deixou de comprar o
algodão brasileiro cuja produção era grande demais para ser absorvida pelo
mercado interno. Sem esta demanda, os produtores foram obrigados a mudar de
cultura, aderindo ao cultivo da cana de açúcar apesar dos investimentos no solo
que esta requeria. Esta região também se destacou pelo alto índice de
exportação de mão de obra, isso porque, não houvesse uma superpopulação, mas porque
as oportunidades de trabalho eram insuficientes para atender as demandas de
sustento de todos, de forma que muitos trabalhadores migraram para outras
regiões, passando a compor num outro cenário, inclusive, o trabalho escravo.
Destes, a maioria migrou para as regiões das minas.
Já na Bahia especificamente, a
atividade de destaque era a produção de fumo, justamente porque não demandava
investimentos de fertilização do solo. Assim sendo, o estado se tornou o
principal produtor de fumo no Brasil. Na parcela sul do estado, a produção de
cacau atingiu níveis de destaque, tendo sido favorecida pelas condições do meio
que muito se assemelhavam às da região amazônica.
No Centro e no Sul, vários fatores
influenciaram nas produções que desenvolveram-se e destacaram-se mais do que em
outras regiões. Dentre esses fatores, o capital acumulado no Rio de Janeiro que
financiava os produtores, aliado ao trabalho escravo consequente da decadência
das minas e a grande disponibilidade de terras propícias ao cultivo são os de
maior relevância.
Já na região da Amazônia a extração
de látex era a principal atividade da floresta equatorial. Expandiu-se graças a
vinda do trabalhador nordestino que fugia das secas e da falta de trabalho em
sua cidade. A navegação como principal meio de transporte por ser o único que
possibilitava o escoamento da produção além dos demais fluxos comerciais. Belém
e Manaus sediavam as empresas exportadoras que monopolizavam a produção da
borracha, em sua maioria, empresas de origem alemã, inglesa, francesa e
norte-americana que revertiam o lucro para suas matrizes.
Nas regiões agroexportadoras,
integrantes do arquipélago, eram perceptíveis as diferenças tanto quanto as
atividades econômicas exercidas, quanto à estrutura física e social entre a cidade
mercantil e o campo agropastoril.
Era na cidade: lócus da burguesia
comercial, que fazia a intermediação entre a zona produtora e os circuitos
internacionais de mercadorias e cada região brasileira especializou-se na
produção de um ou dois produtos para exportação, embora dependente das
flutuações cíclicas do mercado internacional. Assim a divisão territorial do
trabalho se tornou o padrão das exportações brasileiras.
Embora dependente dos rumos do
mercado mundial, as regiões mercantis manifestaram os interesses dos
investidores que se identificaram com o território. Entretanto, pra fazer parte
da economia mundial estas porções do solo brasileiro se caracterizavam com
regiões da economia-mundo, subordinada ao poder político vigente no período que
era o bloco-cafeeiro.
O processo de industrialização a
partir de 1930, quebrou o isolamento do arquipélago mercantil, articulando
regiões brasileiras com infra-estruturas sob o comando dinâmico de São Paulo.
A internacionalização das relações
centro-periferia do Brasil, foi uma demonstração das leis do movimento do
capitalismo industrial e completa o processo de incorporação/inserção do País
na economia-mundo.
Na década de 60, o País apresenta
estrutura articulada porém desigual, com o Sudeste centralizando maior parte da
renda nacional, devido e extrema concentração da produção industrial. Onde
outras regiões cumprem um papel de desempenhar funções peculiares na Nova
Divisão de Trabalho, resultante da industrialização do País.
O processo de incorporação do território
brasileiro foi marcado pela divisão social e territorial do trabalho em três
grandes setores: a marinha, o sertão e as minas.
A marinha realizou diversas
expedições oficiais, ou financiadas pela burguesia portuguesa e holandesa para
o conhecimento do litoral e foi primeiro resultado efetivo da presença do
colonizador que tinha interesse em descobrir riquezas na costa brasileira. No sertão, conhecido como território do
“curral”, onde a pecuária constituía peça-chave para o empreendimento mercantil,
fornecendo animais de trabalho, couro e carne. Foram implantadas a cultura da
cana-de-açúcar e a criação de gado de forma extensiva.
E a descoberta de metais preciosos
em Minas Gerais ativou um intenso ciclo minerador, isso porque a extração de
minerais preciosos não requer alto investimento em tecnologia naquele período.
Desenvolveu-se assim a vida urbana e se formou um mercado de alimentos e um
mercado de animais de tração abastecido pelas regiões sul, para transporte de
produtos, destinados principalmente para os portos de rio de Janeiro e
permitindo que se formassem vínculos econômicos com Nordeste, Centro e Sul.
O império mercantil escravista foi a
forma de inserção do Brasil na nova divisão internacional do trabalho
resultante da Revolução Industrial. Sua Ligação se dá através da circulação de
mercadorias.
A conformação em arquipélago
refletia a inserção do Brasil como produtor de mercadorias para o mercado
mundial, fosse açúcar, fumo, cacau, borracha ou café, utilizando as vantagens
comparativas naturais e históricas de cada porção do espaço nacional. O aumento
da produção foi adquirindo a expansão da ocupação do território, sob uma forma
de acumulação primitiva em que se expropia o excedente criado.
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