segunda-feira, 30 de setembro de 2013

GEOGRAFIA FENOMENOLÓGICA: ESPAÇO E PERCEPÇÃO

A introdução da fenomenologia na Geografia pressupõe uma abordagem do espaço que considera a percepção do sujeito como integrante e em permanente interação. Assim, o mundo vivido e a subjetividade tornam-se fatores importantes para compreensão do espaço nos estudos geográficos.

 INTRODUÇÃO
O estudo se justifica pelo fato de a fenomenologia criticar as “verdades” da ciência racionalista, apresentando outras formas de conhecimento que se baseiam na percepção, na vivência mundana e no processo de subjetivação dá através do método fenomenológico que considera a percepção, o mundo vivido e a subjetividade.
Merleau-Ponty foi audacioso no que tange à situação da ciência moderna acusando-a de mascarar a realidade social. Critica a dicotomia nas ciências modernas que levam à generalização do mundo.

A GEOGRAFIA FENOMENOLÓGICA
Na Fenomenologia da Percepção, Merleau-Ponty propõe que a Filosofia não pode impor formulas regras ou dogmas para a compreensão do mundo, mas sim levar-nos a uma percepção apurada do mundo.
“A fenomenologia “é a tentativa de uma descrição direta de nossa experiência tal como ela é, e sem nenhuma deferência à sua gênese psicológica e às explicações causais que o cientista, o historiador ou o sociólogo dela possam fornecer” (MERLEAU-PONTY, 1999, p.01-02).
O pensamento racionalista, pautado na objetividade, desconsidera o sujeito da percepção. Merleau-Ponty (1999) entende que o sujeito encontra um mundo totalmente pronto, sendo este mundo um “palco de manifestações possíveis”, a percepção consagra como uma forma dessas manifestações. Um ser que percebe torna-se parte das coisas e não consegue desprender-se das coisas, e acaba produzindo uma impressão perceptiva dos fenômenos, podendo descrever coisas de um lugar distante, mesmo que não tenha ido a este lugar.
A Geografia Fenomenológica surgiu com base nas concepções filosóficas da fenomenologia como forma de reação ao objetivismo positivista, o excesso de racionalismo, a materialização, a teorização, a instrumentalização, a ideologia e o dogmatismo apresentado pela racionalidade científica. As críticas avolumaram e fizeram a Geografia buscar novos caminhos e novas fontes teóricas.
A corrente da percepção apresenta interação entre Geografia, Psicologia e Sociologia que buscam uma nova análise espacial, resgatando a totalidade do homem, evitando o seu reducionismo.
A Geografia da percepção, segundo Corrêa (2001, p. 30) “está assentada na subjetividade, na intuição, nos sentimentos, na experiência, no simbolismo e na contingência, privilegiando o singular e não o particular ou o universal e, ao invés da explicação, tem na compreensão a base de inteligibilidade do mundo real”. A Geografia da percepção propõe estudos que consideram o mundo percebido, o mundo vivido e mundo imaginado pelos indivíduos. Para Lencioni (2003, p. 150-151) “a consideração da percepção advinda das experiências vividas é, assim, considerada etapa metodológica importante e fundamental”.
Para Pereira (2003), em linhas gerais a Geografia Fenomenológica propõe uma orientação metodológica que utilize técnicas de observação, questionário, entrevistas, depoimentos, entre outros; que enfatize o estudo de eventos únicos, contrariamente aos estudos de eventos gerais; que incorpore o indivíduo no processo de construção do conhecimento, sendo que cada indivíduo apresenta especificidades para apreensão e avaliação do espaço; que resgate as noções de espaço e de lugar, uma vez que ambos trazem consigo a ideia de percepção, valores, comportamento, atitudes e motivações; e que priorize aspectos relacionados a subjetividade, intuição, simbolismo, sentimentos e experiências e o espaço torna-se concebido pelo espaço presente.

O ESPAÇO E A PERCEPÇÃO
A ideia de um espaço homogêneo completamente entregue a uma inteligência sem corpo é substituída pela ideia de um espaço heterogêneo, com direções privilegiadas, que têm relação com nossas particularidades corporais e com nossa situação de seres jogados no mundo (MERLEAU-PONTY, 2004, p.17).
O espaço é vivido e percebido de maneira diferente pelos indivíduos, uma das questões decisivas da análise geográfica que se coloca diz respeito às representações que os indivíduos fazem do espaço. Essa Geografia procurou demonstrar que para o estudo geográfico é importante conhecer a mente dos homens para saber o modo como se comportam em relação ao espaço. (LENCIONI, 2003, p. 152)
Numa perspectiva geográfica, a fenomenologia trás visão antropocêntrica do mundo e recupera o humanismo ao destacar significados e valores atribuídos ao espaço. O espaço vivido passa a ser construído socialmente através da percepção e da interpretação dos indivíduos, revelando as praticas sociais.
O espaço não é ambiente (real ou lógico) em que as coisas se dispõem, mas o meio pelo qual a posição das coisas se torna possível (MERLEAU-PONTY, 1999, p. 327 - 328).
Dentro do objeto existe a essência, então, torna-se necessário conhecer a essência para não ficar preso a aparência, pois o conhecimento está na essência.
“O mundo não é aquilo que eu penso, mas aquilo que eu vivo; estou aberto ao mundo comunico-me indubitavelmente com ele, mas não o possuo, ele é inesgotável” (MERLEAU-PONTY, 1999, p. 14).
A representação gráfica de escala é o significado mais usual e mais simples para representar áreas. Mas a simplicidade da matemática esconde a complexidade da representação do termo quando trata de recorte espacial. Mesmo que o recorte escolhido seja consciente ou inconsciente existe uma percepção do espaço total e/ou fragmentação espacial.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao contrário da ciência moderna, é interessante observar que a fenomenologia propõe uma aproximação e/ou uma relação entre o sujeito e o objeto no processo de conhecimento, conduzindo formas de conhecimento a partir da vivência baseada na subjetividade e na percepção dos fenômenos.
Na Geografia, a apropriação do método fenomenológico tem como desdobramento a interdisciplinaridade para a compreensão do espaço.
Para a fenomenologia compreender o espaço é considerar o vivido e o percebido inspirado na subjetividade da realidade, que faz com que a intuição se torne um elemento importante no processo do conhecimento, na qual a representação subjetiva do espaço por meio da percepção faz o homem recuperar o humanismo que trás significados e valores ao espaço vivido que é construído pela percepção e pelos indivíduos através das práticas sociais.

Caminhos de Geografia Uberlândia v. 11, n. 35 Set/2010 p. 173 - 178

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