A introdução da fenomenologia na Geografia
pressupõe uma abordagem do espaço que considera a percepção do sujeito como
integrante e em permanente interação. Assim, o mundo vivido e a subjetividade
tornam-se fatores importantes para compreensão do espaço nos estudos
geográficos.
INTRODUÇÃO
O estudo se justifica pelo
fato de a fenomenologia criticar as “verdades” da ciência racionalista,
apresentando outras formas de conhecimento que se baseiam na percepção, na
vivência mundana e no processo de subjetivação dá através do método
fenomenológico que considera a percepção, o mundo vivido e a subjetividade.
Merleau-Ponty foi audacioso
no que tange à situação da ciência moderna acusando-a de mascarar a realidade social.
Critica a dicotomia nas ciências modernas que levam à generalização do mundo.
A GEOGRAFIA FENOMENOLÓGICA
Na Fenomenologia da
Percepção, Merleau-Ponty propõe que a Filosofia não pode impor formulas
regras ou dogmas para a compreensão do mundo, mas sim levar-nos a uma percepção
apurada do mundo.
“A fenomenologia “é a
tentativa de uma descrição direta de nossa experiência tal como ela é, e sem
nenhuma deferência à sua gênese psicológica e às explicações causais que o
cientista, o historiador ou o sociólogo dela possam fornecer” (MERLEAU-PONTY,
1999, p.01-02).
O pensamento racionalista,
pautado na objetividade, desconsidera o sujeito da percepção. Merleau-Ponty
(1999) entende que o sujeito encontra um mundo totalmente pronto, sendo este
mundo um “palco de manifestações possíveis”, a percepção consagra como uma
forma dessas manifestações. Um ser que percebe torna-se parte das coisas e não
consegue desprender-se das coisas, e acaba produzindo uma impressão perceptiva
dos fenômenos, podendo descrever coisas de um lugar distante, mesmo que não
tenha ido a este lugar.
A Geografia Fenomenológica
surgiu com base nas concepções filosóficas da fenomenologia como forma de
reação ao objetivismo positivista, o excesso de racionalismo, a materialização,
a teorização, a instrumentalização, a ideologia e o dogmatismo apresentado pela
racionalidade científica. As críticas avolumaram e fizeram a Geografia buscar
novos caminhos e novas fontes teóricas.
A corrente da percepção
apresenta interação entre Geografia, Psicologia e Sociologia que buscam uma
nova análise espacial, resgatando a totalidade do homem, evitando o seu
reducionismo.
A Geografia da percepção,
segundo Corrêa (2001, p. 30) “está assentada na subjetividade, na intuição, nos
sentimentos, na experiência, no simbolismo e na contingência, privilegiando o
singular e não o particular ou o universal e, ao invés da explicação, tem na
compreensão a base de inteligibilidade do mundo real”. A Geografia da percepção
propõe estudos que consideram o mundo percebido, o mundo vivido e mundo
imaginado pelos indivíduos. Para Lencioni (2003, p. 150-151) “a consideração da
percepção advinda das experiências vividas é, assim, considerada etapa
metodológica importante e fundamental”.
Para Pereira (2003), em
linhas gerais a Geografia Fenomenológica propõe uma orientação metodológica que
utilize técnicas de observação, questionário, entrevistas, depoimentos, entre
outros; que enfatize o estudo de eventos únicos, contrariamente aos estudos de
eventos gerais; que incorpore o indivíduo no processo de construção do
conhecimento, sendo que cada indivíduo apresenta especificidades para apreensão
e avaliação do espaço; que resgate as noções de espaço e de lugar, uma vez que
ambos trazem consigo a ideia de percepção, valores, comportamento, atitudes e
motivações; e que priorize aspectos relacionados a subjetividade, intuição,
simbolismo, sentimentos e experiências e o espaço torna-se concebido pelo
espaço presente.
O ESPAÇO E A PERCEPÇÃO
A ideia de um espaço
homogêneo completamente entregue a uma inteligência sem corpo é substituída
pela ideia de um espaço heterogêneo, com direções privilegiadas, que têm
relação com nossas particularidades corporais e com nossa situação de seres
jogados no mundo (MERLEAU-PONTY, 2004, p.17).
O espaço é vivido e
percebido de maneira diferente pelos indivíduos, uma das questões decisivas da
análise geográfica que se coloca diz respeito às representações que os
indivíduos fazem do espaço. Essa Geografia procurou demonstrar que para o
estudo geográfico é importante conhecer a mente dos homens para saber o modo
como se comportam em relação ao espaço. (LENCIONI, 2003, p. 152)
Numa perspectiva
geográfica, a fenomenologia trás visão antropocêntrica do mundo e recupera o
humanismo ao destacar significados e valores atribuídos ao espaço. O espaço
vivido passa a ser construído socialmente através da percepção e da
interpretação dos indivíduos, revelando as praticas sociais.
O espaço não é ambiente
(real ou lógico) em que as coisas se dispõem, mas o meio pelo qual a posição
das coisas se torna possível (MERLEAU-PONTY, 1999, p. 327 - 328).
Dentro do objeto existe a
essência, então, torna-se necessário conhecer a essência para não ficar preso a
aparência, pois o conhecimento está na essência.
“O mundo não é aquilo que
eu penso, mas aquilo que eu vivo; estou aberto ao mundo comunico-me
indubitavelmente com ele, mas não o possuo, ele é inesgotável” (MERLEAU-PONTY,
1999, p. 14).
A representação gráfica de
escala é o significado mais usual e mais simples para representar áreas. Mas a
simplicidade da matemática esconde a complexidade da representação do termo
quando trata de recorte espacial. Mesmo que o recorte escolhido seja consciente
ou inconsciente existe uma percepção do espaço total e/ou fragmentação
espacial.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao contrário da ciência
moderna, é interessante observar que a fenomenologia propõe uma aproximação
e/ou uma relação entre o sujeito e o objeto no processo de conhecimento,
conduzindo formas de conhecimento a partir da vivência baseada na subjetividade
e na percepção dos fenômenos.
Na Geografia, a apropriação
do método fenomenológico tem como desdobramento a interdisciplinaridade para a
compreensão do espaço.
Para a fenomenologia
compreender o espaço é considerar o vivido e o percebido inspirado na
subjetividade da realidade, que faz com que a intuição se torne um elemento
importante no processo do conhecimento, na qual a representação subjetiva do
espaço por meio da percepção faz o homem recuperar o humanismo que trás
significados e valores ao espaço vivido que é construído pela percepção e pelos
indivíduos através das práticas sociais.
Caminhos de
Geografia Uberlândia v. 11, n. 35 Set/2010 p. 173 - 178
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