quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Princípios da Geografia Humana



PRINCIPIOS DA GEOGRAFIA HUMANA
Vidal de La Blache

Cap. I
Os Grupos e os Meios
I – A Força do Meio
                (...) Em um numero crescente, os grupos sentiram a necessidade de fixar-se, de criar raízes numa região mais ou menos determinada. Possivelmente voluntária e espontânea para uns, esta concentração foi, para outros, um caso de força maior, resultante de pressões que os fizeram recuar para regiões mais inóspitas. (...) Os habitantes tiveram que estabelecer-se em completa harmonia com aquilo que os cercava e impregnar-se do meio.
                ... descobrir a intima solidariedade que une as coisas e os seres. (...) nas relações que o rodeiam, o homem é ao mesmo tempo ativo e passivo. (...)
                (...) Não é sobre indivíduos que a atividade do homem se exerce, mas sobre associações coletivas. (...)
                (...) Foi por colônias, por enxames, mais do que pelo mecanismo regular de expansões naturais, que se formou a maior parte dos agrupamentos vivos. Dentre os seres que entram na sua composição, muitos trouxeram, para o espaço que os mantém reunidos, qualidades ou hábitos contraídos em outras regiões.
                Mas, à falta de afinidade original, o laço geográfico que os liga é suficientemente forte para lhes dar coesão e formar um feixe de todos esses seres, em consequência da necessidade que tem de se apoiar uns nos outros. (...)
                Esta interdependência de todos os coabitantes de um mesmo espaço (...) é uma consequência das condições em que funcionam os seus organismos, e, portanto, do clima.
                Nos quadros delimitados pelo clima, cada coletividade viva obedece às suas próprias necessidades, busca atingir os seus fins; e essas atividades múltiplas cruzam-se com a nossa. O homem intervem tanto na qualidade de associado tanto como na de dirigente. Atrás das plantas e animais que introduz, muitos outros se infiltram sem sua permissão e agem com outras finalidades. (...)
                (...) A colonização e a emigração põem-nos em presença de países, não novos, mas organizados de maneira diferente sob a influencia de outras condições físicas. (...)
                As velhas considerações que, de idade em idade, tem vindo a ser transmitidas sobre o poder do meio, acrescido de cumplicidade dos hábitos, não são de modo algum valores a desprezar no estado das civilizações atuais.
Deslocamento de grupos humanos para outros países (colonização) organizados de forma diferente por influencia das condições físicas;
Novos hábitos (adaptação aos novos espaços) Ex: Boers, Brasil Meridional;

II – A Adaptação das Plantas e dos Animais ao Meio
                Este poder do meio faz com que os seres vivos procurem adaptar-se, usando das faculdades que dispõem. O nosso planeta está condicionado de tal maneira, que a existência dos seus habitantes deve sujeitar-se a interessantes vicissitudes do clima. (...)
                (...) adaptação e a força do habito ... amortece os choques.
                (...) é preciso sem dúvida, uma longa hereditariedade para assegurar a transmissão regular de caracteres adquiridos para a circunstancia. Mas, o que sobressai claramente é a extrema sensibilidade dos organismos a toda variação do meio ambiente. (...)
                Em todos caso, o animal dispõe na locomoção, de uma vantagem que lhe permite emancipar-se, libertar-se dos liames rigorosos do meio. (...)
                O homem está como os animais, embebido das influencias do meio ambiente.
                O recurso que uns procuram no que os distingue – a locomoção - , o homem busca-o no que o distingue também – o cérebro. Ele dirigiu seu esforço para aquilo que criava em seu proveito uma novidade, para o que tinha o atrativo de uma invenção; e neste esforço encontrou o prazer que os animais mais bem dotados para a corrida ou para o ataque sentem no exercício da sua agilidade ou sua força. Podendo dispor de braços para alcançar e de dedos para modelar a matéria, criou o instrumento. (...) Ele prove a proteção do seu corpo. Quanto à velocidade, buscou-a no animal e, depois, nas energias acumuladas na matéria. Há como que um principio de progresso nestes conflitos que nascem das necessidades do meio.
O meio faz com que os seres vivos, por meio de seus recursos, se adaptarem a ele.
Habito e adaptação amenizam as variações climáticas (determinismo ambiental?)
Os animais migram para se adaptar (possibilismo?)
O homem também sofre a influencia do meio (argumentos para o imperialismo)
Populações de zonas secas
Populações de altitude
Para reflexão:
Trata-se de possibilismo, dada a possibilidade de adaptação do homem ao meio.
Essa é uma forma de enfatizar argumentos para o imperialismo.

III – A Adaptação do Homem ao Meio
                Em todas as partes se oferecem os mais notáveis casos de adaptação fisiológica. A forte pigmentação da pele e atividade das glândulas de secreção de que esta provida constituem para os pretos uma vantagem sobre as outras raças; a ativa evaporação que se produz na superfície dos tecidos e o arrefecimento consequente mantém o equilíbrio entre o calor do corpo e o exterior.
                (...) o clima seco comprime os tecidos da pele, precipita a circulação do sangue, que, mais pobre em água, age vivamente sobre o sistema nervoso e excita sua função. (...) Esta secura é um tônico e um estimulante (superioridade intelectual, domínio ou prepotência das raças que vivem sob a atmosfera desértica).
                (...) a secura do ar, pelo obstáculo que opõe às fermentações da vida microbiana, garantiu lá a notável  salubridade cujo atrativo reuniu homens, porque os punha ao abrigo de doenças das terras baixas. (...) Como a pressão atmosférica diminui sensivelmente nessas elevadas altitudes, a combinação do oxigênio do ar com os glóbulos do sangue opera-se mais lentamente nos pulmões: a apatia, a repugnância por todo prolongamento de esforço muscular ou outro qualquer seriam , segundo observações dignas de fé, a consequência desse afrouxamento do mecanismo essencial que, pelo sangue, age sobre a vida nervosa.
                Compreende-se que uma adaptação extremamente rigorosa a certos meios torna aqueles que assim afeiçoou, refratários a meios diferentes. (...)
                A ação da altitude é decisiva nestes exemplos: é ela que demarca zonas de segregação rigorosa, que vincula adaptações irredutíveis. Considerando simples diferenças de latitudes, não ousaríamos prever limitações tão nítidas.
              

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